A partir desta quarta (6), o SindBancários resgata em seu site textos e reportagens da última edição do jornal A Bancária, publicação da entidade de março de 2022, alusiva ao Dia Internacional da Mulher.
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“Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida.”
(Simone de Beauvoir)
A frase acima, apesar de escrita há 73 anos, continua precisa e atual. Se é verdade que nos últimos 100 anos as mulheres tiveram expressivas conquistas de direitos, também é verdade que ainda há muito a avançar. E diante de tantos ataques da extrema direita conservadora, a luta também é resistência justamente para manter nossos direitos conquistados.
O século XX foi nosso: no Brasil conquistamos o direito de votar, de sermos consideradas cidadãs, de ter renda própria, de nos divorciarmos, de acessar métodos contraceptivos e termos alguma autonomia sobre nossos corpos, mesmo ainda longe de estarmos livres da tutela do estado e de cônjuges em relação aos direitos reprodutivos. Ainda precisamos de autorização para fazer uma laqueadura, e o direito ao aborto, mesmo nos casos autorizados pela lei, exige uma determinação épica para quem precisa acessá-lo, para dizer o mínimo.
A crise sanitária e econômica no Brasil só reforçou a certeza de Simone de Beauvoir; demonstrou que são as mulheres as primeiras e mais afetadas nestes contextos. Nossa jornada tripla de trabalho se intensificou, pois passamos a cuidar das crianças e idosos da família em tempo integral, com pouca ou nenhuma ajuda. Foram as mulheres que precisam largar empregos para cuidar da família. O serviço doméstico aumentou, os salários diminuíram, os empregos escassearam e vimos o número de famílias em situação de vulnerabilidade crescer exponencialmente, junto com a violência doméstica. Mulheres morreram queimadas ao tentar cozinhar com álcool já que o gás de cozinha se tornou um luxo. Na fila do osso, as chefes de família são a maioria tentando garantir alimento para os seus, nos restos que em outros tempos não se cogitaria colocar à mesa. Nas guerras mundo afora, as mulheres sofrem além das consequências que todos conhecemos; o risco constante da violência sexual e de serem alvos “fáceis”. Aqui no Brasil, a guerra é outra. Segundo o relatório da ONG Foro de Segurança Pública, uma mulher é estuprada a cada 10 minutos, e este número é subnotificado porque muitas não denunciam. O mesmo relatório aponta um feminicídio a cada 7 horas no país.
Sim, ainda temos muito a avançar em todos os setores. Precisamos de dignidade menstrual, direitos reprodutivos respeitados, melhores salários e emprego decente, estrutura para que o trabalho reprodutivo não recaia somente sobre nossos ombros e que não sejamos mortas simplesmente por sermos mulheres. Precisamos de renda básica que garanta dignidade. E para isso, como sempre, precisamos permanecer vigilantes, organizadas e unidas. Juntas somos a maioria da população e podemos, nas ruas e no voto, mudar os rumos do nosso país, do nosso estado.
Que possamos nos orgulhar e celebrar o que conquistamos até aqui, honrando as que vieram antes de nós e construindo um outro mundo, de respeito, direitos garantidos e bem viver – para nós e quem vier depois.
Por Bia Garbelini, diretora de Juventude e Gênero do SindBancários