Seis agências do Itaú localizadas na área do Centro Histórico de Porto Alegre foram visitadas por diretores e diretoras do SindBancários e pelos integrantes do Grupo Teatral Trilho, na manhã desta quinta-feira, 17/10. A chegada às agências tinha dois fortes motivos. Um, o protesto contra a demissão de 2.753 colegas e o fechamento de mais de 200 agências no último ano. “Mesmo com a crise internacional, o Itaú é a segunda maior empresa de capital aberto do Brasil”, frisou o diretor sindical Eduardo Munhoz. O outro motivo diz respeito à quase completa “invisibilidade” de bancários negros nas agências bancárias, de modo geral – tema a ser discutido quando estamos celebrando a Semana da Consciência Negra em todo o país.
Superar a vitimização
A bancária Ísis Marques, da diretoria da CUT estadual, lembrou aos colegas das agências: “Os homens e as mulheres negras do Brasil pretendem superar de vez a vitimização e buscar reparos da sociedade e inclusão plena, sem discriminações. Hoje, especialmente nos bancos, a presença de funcionários negros é muito pequena, e não reflete a inclusão social de todas as populações do país. E os bancários negros, que existem, muitas vezes permanecem em posições subalternas”, afirmou.
O Grupo Trilho apresentou o esquete teatral “Por que não?”. Eles demonstram, em tom humorístico mas crítico, a humilhação que costumam sofrer muitos bancários e bancárias negras, especialmente em bancos privados, com especial rigor de gerentes e superintendentes (na cobrança de metas abusivas, por exemplo), além de alguns clientes.
“Pega a vassoura, minha filha”
Numa das cenas da enquete, uma senhora idosa entra na agência com uma cachorrinha que defeca no chão. Ao ver uma bancária negra, a cliente não vacila ao ordenar: “Minha filha, pega uma vassoura e limpa o cocô dela”. E na realidade, durante a apresentação da esquete, as únicas pessoas negras presentes, além dos diretores e diretoras sindicais, eram as faxineiras e faxineiros – que aplaudiram bastante a representação.
Outra cena marcante é aquela em que a voz, na porta eletrônica, avisa sobre um cliente negro que entra na agência: “Portando objeto de metal/ portando objeto de metal”. Aí, o ator mostra que o objeto era uma corrente, que ele derruba ao chão – significando a luta contra a opressão e contra o racismo, que ainda perdura mais de século depois da Abolição, em 1888.
Apenas nos bastidores
“Este é um exemplo do que denunciamos em nosso trabalho, mas é uma realidade de muitos bancários negros”, diz o diretor teatral Daniel Gustavo, que forma o grupo com Caroline Fallero, Jon Ferreira e Erick Feijó. A diretora do SindBancários, Cátia Cilene Nunes, lembra que no Brasil inteiro, há apenas 24% de bancários negros em toda a categoria. Já o diretor da Fetrafi Edson Moura, um dos organizadores da Semana da Consciência Negra em Porto Alegre e também trabalhador do Itaú, destaca: “Hoje, nos bancos, praticamente não existem bancários negros. E quando existem, ficam nos bastidores. Precisamos transformar esta realidade”, concluiu.
Fotos: Caco Argemi