Primeiro, colegas da Caixa entraram em contato com dirigentes sindicais do SindBancários com denúncias sobre o processo seletivo da Caixa. Logo depois, o mesmo problema foi identificado, relatado e motivo de preocupação entre colegas da Caixa de outros Estados, como Brasília, São Paulo e outros Estados. O SindBancários prontamente passou a investigar as denúncias de falta de transparência no Processo de Seleção Interna por Competência (PSIC) na Caixa. Há inúmeras denúncias sobre problemas na aplicação das provas para vagas de assistente e consultor. Por isso, a revisão do PSIC, que era uma necessidade, tornou-se uma demanda urgente.
A Comissão Executiva dos Empregados (CEE/Caixa – Contraf/CUT) está preocupada com o andamento do (PSIC) na Caixa, que está sendo realizado desde abril deste ano. A diretora do SindBancários e empregada da Caixa, Virgínia Farias, avisa que o Sindicato está investigando as denúncias e solicita que colegas entrem em contato. “O Sindicato está recebendo denúncias e avaliando. Caso colegas se sintam prejudicados pelo processo seletivo, entrem em contato. Se for o caso, podemos, junto com outros sindicatos, entrar com algum tipo de ação na Justiça para garantir direitos.”, explica Virgínia.
Colegas de Porto Alegre e Região Metropolitana, área de abrangência do SindBancários, relatam, principalmente, falta de transparência no processo seletivo. Os responsáveis pela aplicação da prova não estão divulgando gabaritos nem comunicam abertura de prazos para recursos. “Os colegas relatam que as provas eram muito extensas que, na fase de editais, não foi disponibilizada bibliografia e que as condições para realização das provas são desfavoráveis. O local de aplicação não é adequado”, acrescenta a diretora.
Irregularidades
As maiores reclamações, oriundas de várias regiões do país, estão relacionadas a situações de conteúdo diferente do solicitado para ser estudado, dificuldades na visualização da prova, questões erradas e mal redigidas, e a não permissão de recursos, revisão ao conteúdo e resultados dos testes. Irregularidades também estão sendo identificadas quanto à completa falta de transparência na realização das provas, que são eletrônicas e podem ser objetos de fraudes na consulta de material de estudo. Há a informação de que alguns candidatos teriam recebido ajuda para responder às questões.
A sistemática atual tem resultado, inclusive, numa quantidade pequena de aprovados. “É inadmissível que a Caixa permita que situações desse tipo venham a prejudicar a lisura, a equidade e a qualidade dos seus processos seletivos internos. Na última reunião da mesa permanente de negociação, em 26 de maio, reivindicamos a retirada da trava de seis meses para garantir que os não aprovados que se sentirem prejudicados possam se inscrever em novo processo”, afirma a coordenadora da CEE/Caixa – Contraf/CUT, Fabiana Matheus, que também é diretora de Administração e Finanças da Fenae.
O banco informou que não há uma trava para o empregado participar novamente do PSIC, mas explicou que o modelo atual prevê a realização de apenas uma prova de conhecimento por semestre. Sobre o processo em andamento desde abril, a Caixa disse que não identificou situações de descontentamento geral, e ainda que o não fornecimento de espelho das avaliações e a não interposição de recursos são práticas de mercado que garantem a aplicação dos certames com grande frequência na empresa.
Para Fabiana Matheus, saber o que acertou e errou é um direito de quem participa do PSIC. Ela orienta que os empregados que se sentirem prejudicados registrem a insatisfação nos canais oficiais da Caixa. “Só assim a empresa terá a real noção das denúncias que partiram de várias partes do país. Os aprovados no PSIC para formar banco de habilitados têm todo o nosso respeito e reconhecimento, mas é preciso garantir melhorias nesse processo”, ressalta.
Empregados querem discutir PSIC
Para a CEE/Caixa – Contraf/CUT e as entidades representativas, é fundamental que a Caixa volte a discutir o PSIC com a categoria. “Uma das conquistas da campanha salarial de 2013 foi a criação de uma comissão paritária para avaliar e sugerir melhorias no processo, que realizou a primeira reunião em dezembro daquele ano. Após três encontros, os trabalhos foram encerrados, porque não houve empenho do banco para atender às reivindicações dos empregados”, lembra Jair Pedro Ferreira, presidente da Fenae, que integrou a comissão.
Uma das resoluções do 31º Congresso Nacional dos Empregados da Caixa (Conecef), realizado em São Paulo (SP) entre os dias 12 e 14 de junho, foi a de criação de comitê de acompanhamento dos PSIC e do banco de habilitados, oportunidades e sucessores, com a participação dos trabalhadores e um membro da Gipes. Fabiana Matheus finaliza: “Essa demanda não pode mais ser postergada, pois tem relação direta com a melhoria das condições de trabalho. Todos devem ter oportunidades iguais de ascensão profissional”.
Sistemática
A sistemática atual do banco de habilitados tem resultado numa quantidade pequena de aprovados, já que cada candidato tem que conseguir pontuação mínima de 70 pontos de um total de100 para compor o banco. Além disso, o processo apresenta uma série de irregularidades que têm despertado grande descontentamento entre os empregados e colocado em xeque todo o processo. O problema não está na realização de prova, que inclusive é uma reivindicação antiga da categoria, e sim na forma como esse processo é realizado.
Edital sem transparência
O “edital” do processo estabelece que cópias das provas e gabarito não serão fornecidos. Recursos e revisões de nota também não serão permitidos. O Sindicato destaca que fornecimento de prova e gabarito é o mínimo que se espera de transparência de um certame. Quem fez a prova, além da nota, quer saber o que acertou e errou. Negar esse direito é desrespeitoso com quem estudou e se dispôs a fazer a avaliação. Todas as grandes bancas de concurso deste país possibilitam aos candidatos a prova, o gabarito e a possibilidade de contestar o resultado através de recursos e revisões.
Nível de dificuldade elevado aliado à prova mal formulada
Apesar do grau de dificuldade ser igual para todos os que concorrem à função, o nível elevado da prova dificulta ao candidato a possibilidade de ascensão dentro da empresa. A Caixa utiliza um processo de ascensão profissional em que é notória a dependência financeira dos empregados em relação às funções gratificadas. Dificultar ao empregado a possibilidade de adquirir uma função é condicioná-lo a um salário rebaixado.
Contrastando com o nível elevado de conhecimento em que é cobrado nas provas, foram feitas denúncias acusando a existência de questões mal elaboradas, confusas, com mais de uma resposta possível, ou, em outros casos, sem uma opção correta dentre os itens listados.
Processo contribui para a existência de fraudes
Segundo as regras, “a aplicação das avaliações acontecerá na metodologia à distância, via web, em ambiente virtual cujo acesso será disponibilizado aos candidatos. Os empregados realizarão as avaliações a partir de seus locais de trabalho, em ambiente físico CAIXA. A avaliação terá duração total de 2h30min (duas horas e trinta minutos), que serão considerados a partir do acesso do candidato ao ambiente de prova, antes mesmo da liberação pelo gestor responsável. Os candidatos realizarão a avaliação sob a supervisão de um empregado ocupante de função gratificada de natureza gerencial de sua unidade de lotação física, que será responsável pela abertura, acompanhamento e fechamento da avaliação.”
As regras acima não oferecem a todos os candidatos as mesmas condições. Todos já ouviram falar de fraude em concursos. Em 04/06/2013, o jornal Correio Brasiliense informou que o Ministério Público Federal estava investigando, em todo Brasil, 1.789 denúncias relacionadas a fraudes em concursos públicos. Só no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de sua criação até hoje várias denúncias de fraudes foram feitas e quadrilhas foram presas. Se com todo o aparato de segurança existente nos grandes concursos públicos fraudes acontecem, o que dizer de um concurso em que o candidato faz a prova em sua estação de trabalho, durante o expediente, sob a supervisão de seu gestor imediato, que continua tendo várias outras atividades para serem executadas durante a realização da prova.
“O Sindicato não entra no mérito de possíveis condutas antiéticas por parte do candidato ou do supervisor no momento da realização da prova, mas é evidente que as possibilidades fraude comprometem o certame. Apesar de a necessidade de um empregado com função liberar o acesso à prova, nada garante que esse empregado supervisionará o candidato durante toda a avaliação. Não há garantia de fiscalização quanto a consultas indevidas ou se o candidato receberá ajuda externa”, afirma o secretário de Formação do Sindicato e empregado da Caixa, Antonio Abdan. “A Caixa deveria se espelhar em outros processos semelhantes feitos em outras empresas como o realizado no Banco do Brasil. Em um processo de certificação semelhante, é contratado o Cespe/UnB para condução do processo. Lá a prova é realizada em ambiente fechado e devidamente fiscalizado”, continua.
Piloto em processo de desenvolvimento
A Comissão Executiva dos Empregados (CEE/Caixa) cobrou da Caixa, em mesa permanente de negociação, a suspensão do certame diante dos problemas apresentados. A empresa “reconheceu” as dificuldades do processo e afirmou que ele será aperfeiçoado, e que, pode até sofrer mudanças. Entretanto, afirmou que o processo será mantido. Os aprovados constituirão o banco de habilitados e os demais terão que esperar até o próximo certame e tentar novamente com uma trava de seis meses.
“Essa postura da Caixa é arbitrária. Por questão de justiça, o Sindicato não enxerga outra solução para o problema senão a anulação dos efeitos do processo. Devido a todos os problemas relatados, vemos que a maioria não conseguiu atingir os 70 pontos necessários para compor o banco de habilitados. Isso se deu por falhas no processo. Os empregados não podem ser penalizados por isso. Reivindicamos que os ‘reprovados’ no certame não sejam proibidos de participar dos processos seletivos internos (PSI) pelos próximos seis meses”, frisa Antônio Abdan.
Fonte: Imprensa SindBancários, com Fenae e Bancários do DF