Não se enganem. O fascismo, o racismo, o golpismo, a homofobia do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) não são de graça. Estão carregados de um discurso que já tem trajetória na história do Brasil e atentam contra os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. Nesta terça-feira, 26/1, ele esteve em Porto Alegre. Durante sua passagem pela Assembleia Legislativa, movimentos sociais ligados à juventude, em defesa dos direitos LGBTT, das mulheres, dos estudantes, dos trabalhadores fizeram um ato de desagravo. Ao entrarem no Teatro Dante Barone para realizar um beijaço e se manifestarem claramente contra aquilo que o Bolsonaro pensa e é, jovens foram agredidos por militantes do deputado que estavam na plateia.
Mas vamos aos fatos que nos levam a defender a importância de participar de um protesto em que Jair Bolsonaro é alvo. Quando ele diz que é melhor não contratar mulheres, ele atenta contra os direitos adquiridos por muita luta das trabalhadoras e trabalhadores, como a licença-maternidade. Quando ele diz que os comunistas têm que apanhar, ele fala de muitos lutadores que tomaram a frente de conquistas históricas, como o direito à Carteira de Trabalho assinada. Quando ele diz que luta e defende a volta da Ditadura, ele atenta contra nossos direitos de livre expressão, contra a liberdade e pela volta da tortura. E quando ele vota, vota a favor do PL 4330, aquele da terceirização que tanto combatemos e que agora é o PLS 30, tramitando no Senado Federal.
“A luta aqui é pelo futuro e para mostrar que existe um passado que não podemos mais reviver. Querem criminalizar a sexualidade das pessoas. Eles querem acabar com a cidadania, com os avanços conquistados pelos negros, pelos homossexuais, lésbicas, pelas mulheres. Estamos aqui para resgatar a cidadania e defender direitos históricos de trabalhadores e trabalhadoras ”, disse a diretora de Comunicação do SindBancários, Ana Guimaraens.
Dirigente que participou do ato na Assembleia Legislativa, o diretor do Sindicato, Fábio Dellanhese, reiterou que as agressões não partiram de nenhum integrante de movimento social ou da juventude organizada. “Não houve nenhum tipo de provocação. O que fizemos foi um ato público em um lugar público. O pessoal entrou no Dante Barone, gritou palavras de ordem e, quando estávamos nos retirando, as agressões começaram”, contou Dellanhese.
Registre-se que a entrada dos manifestantes para o interior da Assembleia Legislativa, mais precisamente ao Teatro Dante Barone, obedeceu todas as regras de segurança da Assembleia Legislativa. Todos foram fotografados e tiveram suas carteiras de identidades também fotografadas. Resta saber se os correligionários de Bolsonaro também passaram pelo mesmo procedimento.
Ao menos dois integrantes de movimentos da juventude, foram agredidos e ficaram com escoriações. Uma das vítimas foi identificada no facebook pelo diretor de formação do SindBancários, Julio Vivian (leia depoimento ao final desta matéria). Trata-se de Joaquim Moura, dirigente de movimento da juventude que havia voltado para resgatar duas meninas que estavam sendo ameaçadas e em vias de serem agredidas. Quando ele chegou, virou alvo de inúmeros manifestantes pró-Bolsonaro.
O outro é Victor Marques. Ele é integrante da Central de Movimentos Populares. Também foi agredido nas costas quando foi resgatar outras duas jovens que estavam sendo agredidas. “O nosso ato foi pacífico. Depois do beijaço, alguns companheiros ficaram para trás. Eu vi fascistas pró-Bolsonar correndo atrás de duas meninas e fui até lá para evitar o pior para elas. Depois que íamos indo embora, levei um chute nas costas, socos e mais pontapés”, contou. Jornalistas que estavam trabalhando no interior do Teatro Dante Barone para registrar imagens ou captar áudio também foram agredidos (Leia reportagem aqui sobre a agressão).
Cores, sexualidade e muitos beijos
Nem a chuva, nem as agressões foram suficientes para diminuir o ânimo dos manifestantes contrários ao que pensa e fala o deputado Bolsonaro. Foi uma festa de cores com direito a muitos beijos. Durante as manifestações ao microfone na Praça da Matriz, em frente à Assembleia Legislativa, os integrantes de movimentos sociais lembravam quem era Jair Bolsonaro e por que estavam ali.
“Eu beijo homem, beijo mulher, o corpo é meu e eu faço o que eu quiser”. “A nossa luta é todo o dia, contra o racismo, fascismo e homofobia”. Essas foram algumas das frases cantadas pela gurizada. Outra lembrança é que o partido de Bolsonaro, o PP, é o “campeão da Lava Jato”, alusão à implicação de vários deputados federais gaúchos suspeitos (e acusados) de esquemas de corrupção.
Um deles é o deputado federal Luis Carlos Heinze. Ele não estava no Dante Barone, mas foi lembrando pelo cerimonial como um grande homem de direita. Outro que mandou um salve para Bolsonaro, do outro lado do Oceano Atlântico, foi o deputado estadual Marcel van Hattem, parceiro do Partido Progressista, o PP. Direto de Amsterdã, na Holanda, conforme o locutor oficial do evento pró-Bolsonaro, van Hattem saudou o ato. Vários nomes foram exaltados pelo cerimonial, um deles o do articulista e arquiteto Percival Puggina.
Porque Bolsonaro esteve em Porto Alegre
Bolsonaro veio a Porto Alegre a convite do general de exército Edson Leal Pujol. Este último assumiu o Comando Militar do Sul no lugar do general Antônio Hamilton Martins Mourão, que foi afastado após criticar o governo federal e propor homenagem ao coronel Brilhante Ustra, reconhecido torturador durante a Ditadura Militar.
Depoimento do diretor do SindBancários Júlio Vivian
Sobre as agressões de hoje na Assembleia Legislativa praticadas por fascistas seguidores de Bolsonaro contra meninas e meninos dos movimentos LGBTT, feministas e de juventude, tenho a dizer que este crápula é uma excrescência, um personagem construído que não tem nenhuma consistência política, e numa democracia madura não passaria de piada.
Somente num momento como esse em que o conservadorismo mais torpe saiu do armário e ameaça mesmo os princípios da democracia liberal, calcado no ódio, na ignorância e no preconceito este ser poderia amealhar seguidores.
Seguidores esses, tão deploráveis quanto o personagem que seguem e idolatram, capazes de, seguindo a incitação do “líder” agredirem pessoas por causa da sua sexualidade, gênero e opções políticas.
Em nenhuma democracia que se respeite, alguém que incita a violência contra mulheres, gays, negros e pobres poderia destilar com tanta permissividade o seu ódio e a sua ignorância, nem teria seguidores, salvo poucos lunáticos fascistas.
Em nenhuma democracia real, alguém que defende o estupro, que nega qualquer avanço do ponto de vista dos direitos das oprimidas e oprimidos por uma sociedade arcaica e decrépita teria a cara de pau de defender tais absurdos descaradamente, além de pregar abertamente o fim do chamado estado democrático de direito.
Quero, sobretudo, manifestar minha solidariedade às companheiras e companheiros agredidos pelos trogloditas empedernidos que seguem o personagem construído para simbolizar a reação obscurantista, em especial o companheiro Joaquim Moura que, tentando defender uma companheira que estava sendo acossada pela militância facista foi agredido com dois socos por um desses trogloditas.
#NãoPassarão
Fonte: Imprensa SindBancários