Frente aos acontecimentos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na manhã desta sexta-feira (4), as bancadas gaúchas do PT, PCdoB e movimentos sociais e sindicais afirmaram, em entrevista coletiva, a importância de se defender a democracia no atual momento. Os políticos e ativistas classificaram a ação contra Lula como uma afronta ao estado de direito e destacaram que há uma disputa ideológica envolvida no caso, com a conivência da grande imprensa, para fortalecer a ideia de um golpe contra o mandato da presidenta Dilma Rousseff. Após a coletiva na Assembleia Legislativa, eles se dirigiram para um ato na Esquina Democrática em defesa de Lula e Dilma.
Parte do poder Judiciário, especialmente na figura do juiz Sérgio Moro, usa a corrupção como desculpa para construir um estado de exceção, afirmou o presidente estadual do PT, Ary Vanazzi. “Não tem sentido em levar o Lula coercitivamente, sendo que ele sempre esteve disposto a esclarecer os fatos quando solicitado”, criticou, destacando que há “uma questão política e ideológica” por trás disso. A incoerência no tamanho do aparato utilizado para levar o ex-presidente a depor também foi apontada por Igor Pereira, da Central dos Trabalhadores Brasileiros (CTB). ” Esse aparato midiático e policial que foi montado foi desnecessário, porque não havia necessidade de Lula ser conduzido de maneira coercitiva, já que ele não se negou em nenhum momento a dar depoimento”, destacou.
Os partidos e movimentos convocaram para um ato no próximo dia 13 em defesa de Lula e Dilma, mesma data em que acontecerá uma manifestação pedindo o impeachment da presidenta. “Reconhecemos que cometemos alguns erros, mas isso não pode ser subterfúgio para fragilizar o estado de direito e a democracia. Que se crie uma grande frente começando pelo ato de hoje e depois no dia 13. Enquanto a burguesia pede o golpe, vamos fazer esse enfrentamento político e ideológico”, garantiu Vanazzi.
Para o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Claudir Nespolo, o que está em curso é “muito mais grave do que simplesmente combater a corrupção”. O presidente municipal do PCdoB, Márcio Cabral, também destacou que o partido “não se desviará da luta e do embate político”. Ele anunciou que foi instalado um comitê permanente de luta. “Não é uma defesa de Lula ou da presidenta Dilma, é uma defesa da democracia brasileira. Não é uma frente de esquerda, mas sim uma frente em defesa da democracia. O lado de lá é o lado do golpe”, afirmou.
A fala da deputada estadual Manuela D’Ávila, do mesmo partido, começou também destacando que “todos aqueles que têm clareza do que está acontecendo com o Estado democrático de direito devem se colocar ao nosso lado”. Aplaudida pelos militantes que lotaram o Plenarinho, ela questionou: “há maior prova de que estamos lidando com um verdadeiro circo do que a diferença de tratamento dado por vários veículos de comunicação aqui presentes entre a condução coercitiva de André Gerdau e a do presidente Lula?”, apontando que ambos são inocentes até que se prove o contrário.
Ela também comparou o atual momento político com os meses que antecederam a ditadura, lembrando que a “brincadeira com o estado democrático de direito da última vez que foi feita, demorou 21 anos para acabar” e que os militantes do PT e PCdoB combateram a ditadura. “Nós conhecemos as palavras de ordem da direita fascista que convocam manifestações pro dia 13 de março, de que nós não apoiamos a democracia, mas nós fomos os que morreram entre 64 e 85”, lembrou.
O deputado federal Henrique Fontana (PT) ironizou a tese de que as empreiteiras brasileiras teriam dois “tipos de dinheiro”, um limpo, com o qual financiaram a campanha de Aécio Neves (PSDB) e outros políticos de oposição, e um sujo, fruto de propinas, para financiar a campanha da presidenta Dilma. “Essa é uma das teses mais absurdas que se escuta atualmente”, colocou. Ele comparou a situação de Lula com a do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), cuja denúncia por corrupção foi aceita pelo Supremo Tribunal Federal (STF). “Um político sob o qual os indícios de provas são cada vez mais sólidos, nesse momento ainda preside a Câmara Federal, foi investigado em primeiro lugar pelo Ministério Público, durante meses, sob a coordenação do procurador-geral da República”, lembrou.
Em seguida, devido ao seu foro privilegiado, Cunha foi denunciado ao Supremo, o qual analisou durante sete meses seu caso. “Nessa semana, por 10 votos a 0, os ministros decidiram que ele é réu. A pergunta é se o juiz Moro, que coordena essa investigação, não viu em nenhum momento a necessidade de conduzir coercitivamente o deputado Eduardo Cunha para prestar um depoimento. Mas o presidente Lula, que não tem foro privilegiado, e que prestou depoimento em outros momentos, conduziram coercitivamente”, comparou. Ele classificou Lula como a liderança “mais atacada e mais criticada na história recente desse país”, realçando que, no entanto, “não há até hoje, de todas as denúncias que fizeram, uma única prova e processo contra o presidente”.
A imprensa foi citada diversas vezes como um dos agentes que colaborou para o “espetáculo” montado em torno do depoimento de Lula, especialmente a Rede Globo e a revista Veja. “O que pode condenar e absolver qualquer cidadão não pode ser a capa de uma revista semanal, a manchete de um jornal”, destacou Fontana. A grande imprensa e parte da sociedade, na avaliação do presidente da CUT, “buscam desesperadamente uma alternativa para abreviar esse projeto em curso, que é imperfeito”.
O deputado Luiz Fernando Mainardi, líder da bancada do PT na Assembleia, também mencionou o papel da mídia no caso e em diversos outros momentos da história brasileira. “A união que setores da imprensa, especialmente a Rede Globo, estabelecem com esses que pensam serem donos do Brasil, foi o que levou à derrota do Brizola, foi o que manipulou aquele debate para derrotar o Lula. E sempre foi assim, é da origem dessa classe dominante o seu comportamento”, afirmou.
A coletiva foi encerrada sob gritos de “não vai ter golpe, vai ter luta”. Em seguida, a partir das 17h, os ativistas se dirigiram para a Esquina Democrática, onde acontece um ato em defesa de Lula e Dilma.
Foto: Guilherme Santos/Sul21
Fonte: Débora Fogliatto/Sul21