Pré-lançamento acontece na quarta-feira (23), no auditório do SindBancários
O SindBancários lança na quarta-feira (23), às 19h, no auditório do sindicato, a “página” fundamental de um inovador projeto literário: um livro compilando casos de discriminação vividos por bancários”. Intitulado “O Preconceito Nosso de Cada Dia”, a obra colaborativa tem por objetivo ampliar o debate sobre discriminação de raça, gênero, homofobia e casos de capacitismo dentro de agências e unidades bancárias.
Idealizada pelo bancário aposentado e ex-diretor da Fetrafi-RS, Edison Luís Amaral de Moura, a iniciativa visa estimular que trabalhadores do ramo financeiro debatam abertamente o preconceito e como ele afeta o ambiente profissional e a vida de quem integra a categoria.
“Esta compilação será um instrumento para ampliar o debate e discutirmos o combate ao preconceito, seja qual for, de uma forma mais alinhada à realidade dos trabalhadores bancários”, explica.
A obra foi concebida para ser lançada no primeiro semestre de 2023, pela editora VerdePerto e já conta com alguns depoimentos de trabalhadores(as) e dirigentes sindicais. Mas a ideia, conforme o organizador da coletânea, é incluir novos relatos na publicação após o pré-lançamento.
“Esperamos que os colegas percam o medo e revelem suas histórias. Só assim será possível dimensionar a quantidade de casos e a gravidade do preconceito dentro de agências e unidades bancárias”, convida Moura, que é graduado em História e Mestre em Memória Social e Bens Culturais.
Para ele, o momento pelo qual o Brasil passa é propício para ampliar os horizontes e aprofundar o debate sobre discriminações, sobretudo o que diz respeito à luta antirracista.
“Quando falamos especialmente em racismo, temos de ter em mente que ele sempre existiu, só que de maneira velada. Mas, com o empoderamento da extrema-direita junto à sociedade, muitas pessoas se sentiram validadas para praticar o preconceito racial sem qualquer tipo de pudor ou peso na consciência”, avalia Moura.
Livro quer ajudar a mapear casos de racismo em agências
Desde 2018, quando a extrema-direita brasileira normalizou o discurso de ódio contra minorias e quando o movimento norte-americano Black Lives Matters ganhou as manchetes de jornais com seus protestos pela morte de George Floyd e contra o racismo policial, coletivos do mundo todo vêm cobrando da sociedade e de autoridades públicas que adotem posturas mais severas no enfrentamento ao preconceito racial. No Brasil, vale lembrar que, 56% da população se declara negra ou parda, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A morte de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, nas dependências de um supermercado Carrefour, na Zona Norte de Porto Alegre, foi o estopim para que o combate ao preconceito gerasse uma comoção nacional. Desde então, diversos outros casos semelhantes vieram a público e resultaram numa transformação que, inclusive, vem alterando a composição das casas legislativas do estado, como explica o diretor do SindBancários, Guaracy Gonçalves.
“Estamos vivendo um paradoxo, uma onda de avanços da extrema-direita, mas também de combate ao racismo, dado as vagas que conquistamos na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, em 2020, e na Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, em 2022. Se é verdade que há uma direita organizada, há também o movimento contrário, de formação de bancadas parlamentares negras e que colocam a luta antirracista como prioridade”, explica o dirigente sindical.
Conforme pesquisa encomenda pelo SindBancários junto ao Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) e respondida por mais de 600 trabalhadores da base, apenas 2,8% dos entrevistados se declararam negros ou pardos. Um dado preocupante e que dá indícios da falta de representatividade dentro dos estabelecimentos bancários. De acordo com Guaracy. Gonçalves, a construção do livro pode abrir as portas para uma discussão sincera com a base de trabalhadores sobre o assunto.
“A construção deste projeto pode ajudar a identificar o que está acontecendo dentro das agências bancárias, se é o racismo que está impedindo o trabalhador de assumir sua negritude ou se isto se deve a algum outro fator”, pondera.
Para todos os(as) bancários(as) que quiserem enviar relatos, o anonimato será garantido, sendo facultada a identificação, de forma que os(as) colaboradores(as) que necessitarem da autoria para fins curriculares, possam ter a coautoria identificada no livro. Os relatos podem ser enviados diretamente para os organizadores do projeto através do e-mail [email protected]
Fonte: Imprensa SindBancários