As manifestações das ruas na semana que passou não seriam possíveis se não tivéssemos lutado e conquistado democracia. Então, se tem algo a aprendermos é que a luta no nosso país nos tornou cidadãos livres para reivindicar o que bem entendermos. Mas também nos cobra um preço: estarmos de um lado ou de outro das demandas defendidas por grupos distintos de manifestantes.
A história de 82 anos do SindBancários é de defesa dos direitos dos trabalhadores bancários. Quando tais direitos são ameaçados, o Sindicato trata de organizar os trabalhadores e busca reunir forças para garantir conquistas. Seguidamente, fizemos passeatas nas ruas, e, nos últimos 11 anos, de forma consecutiva, levamos nossas pautas de luta para debatermos e construir nossos direitos em greves.
Mas nossas lutas também são ampliadas quando a democracia ou o debate são ameaçados. Isso ocorreu quando dirigentes sindicais do SindBancários foram presos durante a Ditadura Militar. Lutávamos pelos direitos dos trabalhadores, mas também pelo reestabelecimento da liberdade e da democracia para todos nos anos de chumbo.
As manifestações de domingo passado foram animadas pela grande mídia, em especial a Rede Globo. Reuniram noções tão difusas de democracia e luta por direitos como o pedido de impeachment da presidenta Dilma, democraticamente eleita, o fim da corrupção e a volta da Ditadura Militar.
Exigir a volta da Ditadura é sinal preocupante da ausência de debate e de formação política. Por isso, na quinta-feira, 12, protagonizamos o Ato Estadual em Defesa da Petrobras e do Brasil, em Porto Alegre e Região Metropolitana, e apoiamos o Ato Nacional no dia seguinte.
Nesses dois atos organizados pela CUT, estão contidas, de forma muito clara, as pautas que interessam aos trabalhadores, como o Plebiscito sobre a Constituinte Exclusiva e Soberana para reforma do sistema político e o fim do financiamento privado de campanhas eleitorais.
Entendemos que construímos avanços significativos na última década. Mas precisamos avançar mais.
O modelo de financiamento de campanhas políticas por empresas privadas está esgotado. Impera a força do dinheiro. É a origem da corrupção institucional no país. O financiamento público de campanha coloca candidatos em pé de igualdade.
A corrupção no Brasil não começou agora e também não se restringe ao Poder Executivo. Não devem ser apenas os corruptos o alvo da nossa preocupação. Os corruptores também devem ser punidos na forma como a lei brasileira demanda. Portanto, não podemos aceitar, por uma questão de justiça histórica, que tentem nos convencer que as manifestação de domingo tenham descoberto a corrupção.
Sabemos que os quatro últimos governos trouxeram avanços sociais importantes e recuperaram o papel do Estado como investidor e de agente redutor das desigualdades sociais. No entanto, temos críticas às decisões mais recentes, especialmente à política econômica que vem sendo praticada.
Somos contra as MPs 664 e 665. Está na hora de combater com mais ênfase a sonegação fiscal, taxar as grandes fortunas, acabar com a isenção fiscal para heranças, corrigir a tabela de imposto de renda e ter a certeza que não é tributando salário e sim renda que vamos combater a desigualdade.
Temos que insistir na luta para que o PL 4330, da terceirização, deixe de tramitar no Congresso Nacional. É importante que, até 7 de abril, quando o Congresso Nacional deve votar tal Projeto de Lei, os trabalhadores, junto com os movimentos sociais e as entidades sindicais, façam uma grande mobilização para evitar a perda de direitos.
Os bancários já sofrem em seu dia a dia o medo da terceirização e a precarização das suas atividades. Há riscos de os bancários perderem PLR, vale-alimentação e outros benefícios como 13º salário e a carteira assinada. O sistema financeiro quer enxugar custos em nome da redução de direitos dos trabalhadores.
Além da defesa da nossa categoria, entendemos por urgente para o bem da democracia a implantação de uma Lei de Meios. Democratizar o sistema de comunicações do país significa alterar regulamentar a proibição de hegemonia já consagrada na Constituição Federal e isso, entendemos, altera a configuração do domínio do imaginário social. Precisamos de uma visão de mundo em que a diversidade seja o objetivo e não a concentração de poucas formas de ver o mundo e que não politize a nossa vida social compartilhada.
O governo Dilma precisa retomar a estratégia do combate à desigualdade como prioridade, ampliando políticas públicas sem cobrar dos trabalhadores a conta de superávit primário.
Há também muito debate a ser feito. O SindBancários está pronto. É tempo de defender e ampliar direitos dos trabalhadores e ajudar quem mais precisa. A democracia é para todos.