O humor do filme “Animal político” acena com a alegoria da vaca para mostrar o nosso jeito bovino de ser e de viver

Ela é existencialista. Vive um dia após o outro. Vai trabalhar e volta e nem sabe que é um “Animal político”. O filme do diretor Tião teve sessão comentada no CineBancários, na terça-feira, 13/6, com a presença da atriz Elisa Heidrich e do produtor Leonardo Lacca, não pode ter muitas de suas cenas comentadas . Trata-se de um filme alegórico, cheio de referências em que cada cena, ou ao exagero, cada frame, contém uma mensagem e pode virar spoiler. O filme entrou em cartaz em 8/6, no CineBancários e faz parte do Projeto Vitrine Petrobras, tendo sido exibido até a quarta-feira, 14/6.

“Animal Político”, pode-se dizer, é um filme fragmentário, aparentemente sem história linear e sentido, mas cheio de referências. Para gerar essa consciência onírica, que também é inconsciência, Tião lançou mão de uma estética surrealista, irônica, que beira e pode superar o absurdo. Em resumo, a vaca significa o animal que desconhece a política em seu entorno, que descrê dela, que acha que o voto não tem mais importância, mas não compreende a sua condição bovina de respeitar rotinas e viver sem que a vida mude. Quer voltar sempre para o lugar de segurança e não de mudança.

Parte do problema do filme é esse. A vaca é bem bovina, com o perdão da redundância. De animal político não tem quase nada. Sua vida é preenchida por uma luta contra o tédio, criando ainda mais tédio. Cabeleireiro.Shopping Center. Balada. Até que ela alcança a iluminação após questionar a sua vida e realizar um périplo.

Leonardo diz que a intenção do filme foi procurar deixar essas questões abertas. As referências, a narrativa alegórica, o estranhamento seriam uma forma de captar a atenção. “Aos poucos, as pessoas se acostumam com isso tudo. A empatia é um pouco automática. Tentamos criar empatia e identificação para a vida que levamos. Cada um vai ver o filme de um jeito. O estranhamento é muito pessoal”, diz ele.

Fato, mas nem tanto. O filme, produzido desde 2010, foi concebido como um curta-metragem. Com todas as dificuldades que é levar um animal de verdade, no caso uma vaca, para um set, ficou uma curiosidade. Como se escreve um roteiro em que uma vaca aprece num deserto, depois de ter frequentado cabeleireiro, fazer compras em um shopping ou pisar em livros?

Para contornar essa, digamos, dificuldade de expressão da atriz principal, o roteiro recorreu à voz humana: a vaca pensava em off, com narração de voz masculina. O roteiro usou o recurso do cromaqui e outros efeitos especiais, inserindo a vaca em certos cenários em que o animal de verdade não estava. “O diretor Tião não gosta de acabar com a magia do cinema. Há 150 efeitos especiais no filme. Algumas cenas foram feitas no cromaqui. Desde o início, existia uma ideia de usar o off. O roteiro era muito curto: ‘Uma vaca anda no deserto. Um iglu de livros’. Os offs existiam, mas foram sendo desenvolvidos e criaram um terceiro sentido”, acrescenta Leonardo.

A atriz Elisa interpretou a personagem Caucasiana. Presa em uma ilha desde criança e totalmente nua, a personagem é mais uma das referências alegóricas da vida moderna. Pode ser ressignificada como um contraste entre a vida bovina que levamos como gado e a total solidão da solidão em uma ilha. “Acho que o estranhamento lembra o riso também em uma situação completamente absurda. Há um questionamento profundo, uma inquietação. São dois personagens em situação de crise. Não estão em situação de conflito”, diz Elisa.

“Animal político” é um filme que deve ser visto. Digerido. Pensado. A vaca significa a nossa impotência, a nossa falta de humanidade, essa nossa noção de pensar que sabemos tudo quando não passamos de quadrúpedes ante tanta oferta de informação e tanta confusão política. Mas falta-lhe, justamente o conflito, a noite escura em que estamos metidos sob um golpe em marcha. Vá ver, nem que seja para ficar ainda mais confuso.

SOBRE O FILME

O filme bem-humorado e irônico é o primeiro longa-metragem do diretor pernambucano, que já foi premiado na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes pelos curtas “Muro“ (de 2008) e “Sem Coração“ (de 2014). “Pensar no que é a vaca passa por uma questão social clara e básica. Como a gente é uma coisa só, uma só espécie e, ao mesmo tempo, pode ser tão separado? Queria falar de uma entidade humana, torná-la a mais ambígua que eu conseguisse”, explicou o diretor, durante participação no Festival de Tiradentes em 2016.

Rodado entre 2010 e 2013, em Pernambuco e na Paraíba, o filme traz a vaca como uma representação da humanidade, da sua necessidade material e de estar cercada de pessoas e, ao mesmo tempo, o sentimento de solidão e infelicidade que a cerda. “Coloquei essa vaca para que as pessoas olhassem as banalidades das nossas situações com algum distanciamento“, disse o diretor em entrevista à Folha de S.Paulo.

Além de Cerveja, o nome real da vaca protagonista, o filme contou com trabalho fundamental do elenco, que deu “voz“ aos personagens. Entre eles, o ator Rodrigo Bolzan, que foi o responsável por “dar vida“ aos pensamentos do animal.

SINOPSE

Uma vaca tenta se convencer de que é feliz. Numa noite, véspera de natal, a vaca confronta-se com uma sensação forte de vazio, algo estranho que ela nunca havia sentido. A crise a faz começar uma jornada por iluminação, em busca do seu verdadeiro eu.

SOBRE O DIRETOR

Tião é um dos fundadores da Trincheira, produtora com base em Recife. Dirigiu os filmes Eisenstein (2006), Muro (2008) e Sem Coração (2014). Os dois últimos receberam prêmio de melhor curta-metragem na Quinzena dos Realizadores, em Cannes. Com o Muro ganhou ainda o Grande Prêmio Cidade de Vila do Conde (Portugal), enquanto Sem Coração foi escolhido como melhor curta no Festival de Brasília de 2014. ANIMAL POLÍTICO é seu primeiro longa-metragem.

PRÊMIOS E FESTIVAIS

Prêmio especial do Júri do Festival Internacional du Film Indépendent de Bordeaux

Prêmio revelação no festival luso-brasileiro de Santa Maria da Feira

19ª Mostra de Cinema de Tiradentes (Mostra Aurora, 2016)

IX Janela Internacional de Cinema do Recife (Sessões especiais, 2016)

Festival de Rotterdam (2016)

Torino International Film Festival

Durban International Film Festival

Jeonju International Film Festival

Transilvania International Film Festival

FICHA TÉCNICA

Drama / Comédia / Brasil / 2015 / 76 min

Direção e Roteiro: Tião

Produção: Leonardo Lacca

Direção de Produção: Tiago Melo, Lellye Lima

Montagem: Leonardo Lacca

Fotografia: Marcelo Lordello, Gustavo Jahn

Direção de Arte, Cenografia e Figurino: Iomana Rocha, Melissa Dullius, Gustavo Jahn

Som Direto: Guga S. Rocha, Pablo Lamar

Trilha Sonora: Jon Wygens

Desenho de Som: Roberto Espinoza

Produção: Carlos Cipriano

Edição de Som e Mixagem: Belém de Oliveira

Pós-Produção: Sierra Filmes

Elenco:

Rodrigo Bolzan – Narração da vaca

Elisa Heidrich – A Pequena Caucasiana

Cerveja – Vaca

Victor Laet – Vaca Bípede

Isabel Novaes – Mãe da vaca

Arthur Gomes – Pai da vaca

Marina Couceiro – Irmã da vaca

Crédito fotos: Anselmo Cunha

Fonte: Imprensa SindBancários

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