O 17 de maio se tornou um dia-símbolo da luta contra a homofobia e em defesa das minorias. Foi nesta data, em 1990, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) excluiu a homossexualidade da classificação de doenças, ou problemas relacionados à saúde. Após 27 anos deste reconhecimento, a conclusão que podemos tirar é que há muito a avançar no reconhecimento da igualdade e da diversidade de gêneros. O Brasil ainda é o país que mais mata travestis e, recentemente, um gerente bancário do Itaú foi demitido após as suas férias por publicar fotos e um vídeo no facebook sobre o seu noivado.
O preconceito se reveste de violência institucional e violência direta. A cada 25 horas, uma pessoa LGBTT é assassinada, vítima da LGBTTfobia, o que faz do Brasil campeão mundial de crimes contra as minorias sexuais. No caso do bancário gerente do Itaú a demissão, em 10 de março, foi o ápice de uma perseguição que incluía “puxões de orelha” relacionados à sua forma de se vestir ou até mesmo de comemorar os resultados que ele atingia em sua agência acima da média e das metas. O Sindicato dos Bancários de São Paulo já cobrou da direção do Itaú explicação e acompanha o caso.
O caso aconteceu no Núcleo de Relacionamentos de Gerentes, no ITM. Com um ano e seis meses de banco, o então gerente de relacionamento Uniclass/PF diz ter recebido 10 prêmios por cumprimento de metas, sempre com resultados bem acima da média. Com o destaque, vieram também as primeiras reações discriminatórias.
“Me repreendiam dizendo que eu me ‘soltava demais’ quando ganhava um prêmio, e que esta postura não é adequada. Também diziam que minhas roupas não eram as ideais para o trabalho, que meus ternos não estavam dentro dos padrões”, relembra o trabalhador.
Noivado e demissão
A discriminação homofóbica chegou ao limite em março, quando ele voltou de férias, período em que ficou noivo e postou vídeos e fotos sobre o tema nas redes sociais. O trabalhador conta que foi chamado pelo gestor da área e informado que a demissão se devia a sua postura, que não era adequada.
“Eu me senti profundamente indignado, um banco desse tamanho ainda usa homofobia como critério de demissão, e não os resultados dos trabalhadores”, critica. Sem clima para voltar para o Itaú, ele não quer ser readmitido. “É preciso que eles paguem para que nenhum outro trabalhador LGBT tenha de passar por isso novamente.”
O Sindicato já repassou a denúncia ao setor de Recursos Humanos do banco e espera uma resposta sobre o caso. “Não é a primeira vez que isso acontece no Itaú e, recentemente, denunciamos demissões de pessoas com deficiência. É preciso que o banco reveja suas posturas, e nós cobramos que esse tipo de coisa não aconteça novamente”, explica o dirigente sindical Fábio Pereira.
“Seja mais homem”
O ex-gerente é formado em administração, tem pós-graduação em gestão e trabalhava no Núcleo de Relacionamentos de Gerentes do Itaú Unibanco. Ele afirma que há meses recebia intimações de sua gestora para “melhorar a postura” – entre as orientações, usar ternos, calças e camisas “menos justos”.
A orientação seria refeita outra vez, em outro prêmio de destaque recebido meses depois. O bancário explica que, à época, não levou o caso para o sindicato por medo de perder o emprego. Contudo, diz que passou a conviver com comentários da chefia acerca de suas roupas. “O preconceito, hoje, é mais silencioso, não é escrachado. De forma bem discreta, eles diziam: \’seja mais homem. A \’postura\’ que eles falavam era sobre eu ser gay. Minha gestora falava muito sobre a \’imagem do banco\'”, afirmou.
Danos morais
O ex-gerente hoje move uma ação trabalhista contra o Itaú Unibanco por danos morais e discriminação. “É muito desagradável. Estudei, fiz faculdade e me esforcei no emprego. Eu não queria estar em casa de manhã dando entrevista, queria estar trabalhando para sustentar minha família”, observa. Em nota, o Sindicato dos Bancários do Estado de São Paulo afirma que tem um histórico de combater qualquer tipo de discriminação e que esse é um tema que infelizmente gera casos, mas que “eles são devidamente tratados para que não se repitam”. A nota segue: “Esperamos que essa denúncia seja um exemplo do que não deve ser feito porque a sociedade não vai mais admitir um comportamento preconceituoso”.
Mesa bipartite e convenção coletiva
Durante reunião da mesa bipartite de Igualdade de Oportunidades, ocorrida na segunda-feira, 15/5, em São Paulo, a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) apresentou à Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) uma proposta de criação de Grupo de Trabalho específico para discutir as questões relacionadas à diversidade sexual e identidade de gênero. A Fenaban vai consultar os bancos e traz a resposta na próxima reunião da mesa, agendada para o dia 17 de julho.
“A demanda não é nova. Já faz algum tempo que discutimos o tema com a Fenaban e especificamente com os bancos, inclusive a categoria já obteve algumas conquistas. Mas está na hora de avançarmos no sentido de erradicar nos bancos toda e qualquer discriminação, seja ela de raça, gênero, orientação ou identidade de gênero”, afirmou Adilson Barros, diretor e representante da Contraf-CUT na reunião, ressaltando que a inclusão da questão sobre a orientação sexual e identidade de gênero no 2º Censo da Diversidade Bancária já foi um avanço, assim como a manutenção das cláusulas específicas sobre diversidade – 49 e 50 – na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT).
O dirigente da Contraf-CUT lembrou ainda que alguns bancos já estão adiantados nesta questão, com participação, inclusive, no Fórum de Empresas e Direitos LGBT, que congrega empresas nacionais e multinacionais em torno da diversidade sexual e de gênero e do combate à discriminação LGBTfobica.
Diversidade bancária
No 2º Censo da Diversidade Bancária, realizado pela Fenaban em 2014, 2,7% das trabalhadoras se declararam do gênero masculino e 4% dos trabalhadores se declararam do gênero feminino. “A proporção é pequena se comparada com os dados gerais da população brasileira. Mas é importante observar que 12,8% dos pesquisados não se sentiram confortáveis para responder a esta questão”, ressaltou Bulgarelli.
Fonte: SEEB-SP, Revista Época, Imprensa SindBancários