Jacarezinho, Maré, Cidade de Deus. Massacres de população periférica se sucedem no RJ e em todo o Brasil
Um reconhecido amigo de milicianos, o presidente Jair Bolsonaro participou de reunião com o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, na tarde de quarta-feira, 5 de maio. Menos de 12 horas depois, aconteceu o pior massacre da História em uma favela do Rio de Janeiro, a de Jacarezinho, na Zona Norte da cidade. Foram ao menos 25 pessoas mortas depois que a Polícia Civil do Rio montou uma verdadeira operação de guerra contra a população pobre do local. Viaturas blindadas (“caveirões”) foram colocadas nas entradas do Jacarezinho. Muitos tiros de fuzis foram disparados de helicópteros, e houve invasão de casas e barracos. Nem a estação de trem vizinha à favela, onde se encontravam trabalhadores que se dirigiam ao trabalho, escapou de ser atacada pelas forças policiais.
É brutal e inaceitável. Porém, mais uma vez se assiste a um massacre realizado por forças policiais, ligadas às mílicias, sobre uma população majoritariamente negra e favelada. A repetição destes fatos não parece mera coincidência e mostra mais um traço fascista do Brasil atual, presidido por Jair Bolsonaro. São falsas soluções sangrentas para problemas sociais que se arrastam há décadas.
Visita do presidente
Também não parece mera coincidência a visita de Bolsonaro ao Rio e o massacre ocorrido na favela carioca. Cláudio Castro, cantor católico que se diz “evangelizador”, era vice-governador na chapa de Wilson Witzel, o ex-juiz assassino que pedia para a polícia “mirar na cabecinha” de traficantes. Com o impeachment de Witzel, no dia 30 de abril, Castro ganhou de presente o cargo máximo no Estado do Rio.
Comando Vermelho
A Operação Exceptis, deflagrada pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), teve como pretexto o fato de que “traficantes vêm aliciando crianças e adolescentes para integrar a facção que domina o território, o CV (Comando Vermelho)”. As mortes, segundo a polícia, visaram “proteger as crianças”. Para isso, casas, calçadas e ruas do Jacarezinho ficaram manchadas de sangue.
Na verdade, como afirmam os estudiosos do tema, crian ças e adolescentes são aliciadas para vender drogas desde que existe tráfico – na prática, desde sempre). E isso acontece em, todas as cidades e quebradas do Brasil.
O mesmo problema acontece também nos extensos territórios controlados pelos milicianos amigos de Bolsonaro. Aliás, no Rio de Janeiro, hoje, a maior parte da cidade é dominada pela Milícia, que já controla 25,5% dos bairros do Rio de Janeiro, em um total de 57,5% do território da cidade. As três principais facções criminosas do tráfico de drogas —Comando Vermelho, Terceiro Comando e Amigos dos Amigos— possuem juntas o domínio de outros 34,2% dos bairros, perfazendo meros 15,4% do território.
Mas – como alertam os especialistas na questão da violência urbana – nas áreas controladas pelos amigos de Bolsonaro não acontecem chacinas como as que vitimam as comunidades controladas pelos grupos rivais dos milicianos. Isso também não é coincidência
Milícias disputam territórios
A partir dos anos 2000 as milícias entraram na disputa de áreas da cidade, enquanto Comando Vermelho, Terceiro Comando e Amigos dos Amigos já estavam formados desde a década de 1990. O rápido crescimento da milícia deve-se ao fato de ela contar com todo o aparato bélico do Estado: afinal, ela é composta principalmente por policiais e ex-policiais.
Para conquistar novos territórios, acabar com inimigos (concorrentes) e aterrorizar a população local, basta elaborar uma desculpa palatável ao poder – como essa, de que a Operação Exceptis era para proteger as criancinhas.
Afinal de contas, quem realmente ganha com a sangrenta ação em Jacarezinho? E a resposta, segundo os especialistas, é muito clara é: a Milícia ganha, o Comando Vermelho perde. Simples assim. Hoje foi no Jacarezinho, ontem foi na Maré, anteontem foi na Cidade de Deus e assim vai se ampliando o território controlado pela Milícia na Cidade Maravilhosa.
Desrespeito ao STF
O Rio de Janeiro coleciona massacres contra sua população mais vulnerável. E isso ocorre totalmente à margem da lei. Mônica Cunha, coordenadora da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), lembrou que a operação realizada nesta quinta-feira desrespeitou determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) que havia suspendido operações policiais em favelas do estado durante esse momento de pandemia.
Fonte: Site Jornalistas Livres, com Edição de Imprensa SindBancários. Foto: Rede Brasil Atual