Numa atmosfera política e econômica contaminada pelo golpismo e a injustiça – pois a Deusa dos olhos vendados só deixa sua balança pender para um lado – os trabalhadores são colocados contra parede na defesa de suas conquistas sociais e salariais. Empoderados pelo discurso da crise econômica (embora somente no primeiro semestre deste ano os seis maiores bancos brasileiros tenham faturado astronômicos R$ 30 bilhões), apoiados e apoiadores de um governo sem representatividade popular, os banqueiros endurecem o jogo.
Afinal, o governo de Michel Golpista Temer avança em projetos que visam reduzir benefícios trabalhistas há muito conquistados. Assim, com quase dez dias de greve e ampla participação dos bancários no movimento paradista, a Fenaban bate pé na sua ridícula e indecente proposta.
Ridícula e indecente
Por que ridícula? Por que indecente? Ridícula porque a proposta de reajuste de 7% sequer repõe as perdas inflacionárias do ano, que chegam perto de 10%. Indecente porque acenar com um abono de R$ 3.300,00 é uma espécie de bala oferecida a quem tem fome, ao invés da garantia de ter refeições diárias. O abono se ganha uma vez, se gasta, e não é anexado aos ganhos contidos na folha salarial do cidadão e da cidadã que trabalham.
Pega-ratão
Para oferecer estes índices, os banqueiros utilizam uma espécie de “pega-ratão”. Consideram que o tal abono e o reajuste salarial “superam a inflação previstas para os próximos 12 meses”.
Ora, em primeiro lugar é absolutamente impossível prever esta inflação, num quadro de instabilidade e insegurança político-financeira como a atual. Em segundo – e mais importante – eles esquecem de recuperar as perdas inflacionárias já sentidas no bolso dos trabalhadores desde o ano passado.
E mais. A Fenaban também não garante a manutenção do nível de emprego no setor – bem ao contrário. Você leu acima que eles contabilizam cerca de R$ 30 bilhões de lucro no primeiro semestre. No entanto, no mesmo período, suprimiram 7.897 postos de trabalho nos primeiros sete meses do ano. E não querem parar por aí.
Só ousam fazer isso, os banqueiros, pois sabem que a configuração política do Brasil, pós-golpe jurídico-parlamentar-midiático, está tranquila, está favorável a eles e a todo andar de cima da sociedade brasileira.
Não é só o salário
Só resta aos bancários se unirem. E não só pelo salário e pelas boas condições de trabalho nos bancos – mas em defesa de todos os trabalhadores e segmentos populares do Brasil, incluindo também as grandes empresas nacionais e o patrimônio público, que fortalecem a independência, a soberania e o crescimento do país.
Tudo está interligado, e as perdas e os ganhos dependem em muito da união e da concentração de forças.
Um por todos e todos por um, já ensinava Alexandre Dumas, em “Os três mosqueteiros”. Um ensinamento romântico, mas universal e básico. E eficiente, como demonstra fartamente a História. Porém, não basta conhecê-lo. É preciso segui-lo.
Texto: José Antônio Silva, jornalista