Seria cômico se não fosse trágico: nada menos que sete – eu disse sete – ministros e membros do primeiro escalão do interino Temer, recém nomeados, estão sob investigação, seja na Lava-Jato ou em outras maracutaias. Não há nenhum quadro honesto no que era até recentemente oposição? Ou os honestos não querem se envolver neste governo suspeito?
O fato é: sem conseguir derrotar o PT e seus aliados em quatro eleições, os conservadores brasileiros resolveram achar algum atalho para o poder e apostaram nas tais “pedaladas fiscais” – praticadas à vontade por todos os governos federais e estaduais – para pedir o afastamento de Dilma. Tudo em nome da ética… Mas Já caíram Romero Jucá (Planejamento) e Fabiano Silveira (Transparência). Henrique Eduardo Alves (Turismo) vai no primeiro assoprão, assim como Fábio Medina Osório (AGU) e Fátima Pelaes (Mulheres). Geddel Vieira Lima (SGG) e Moreira Franco (PPI) estão na fila do empurra. O New York Times traz reportagem com o sugestivo título: “Medalha de ouro do Brasil para a corrupção”.
Já a Lava-Jato, que era melhor coisa do mundo quando só visava petistas e aliados, agora virou um incômodo ao chegar junto no PMDB, PSDB e associados. Até Gilmar Mendes (depois de levar um puxão de orelhas de Rodrigo Janot) autorizou abertura de outro inquérito contra Aécio Neves.
Aliado de Temer na orquestração da votação do processo de impeachment da presidenta , o gangster Eduardo Cunha continua manobrando escancaradamente para terminar em pizza o seu próprio processo de cassação, envolvido que é em mil picaretagens.
O furacão Janot
Agora, o mesmo Rodrigo Janot determinou prisão do mesmíssimo Cunha, Renan, Jucá e do velho José Sarney (este em prisão domiciliar e tornozeleira, em função dos 86 aninhos).
Nem Lobão uiva mais, e as panelas de griffe estão funcionando somente na cozinha. Alexandre Frota concorre ao título de artistas símbolo da Era Temer. E ainda tem muito jogo pela frente.
Bancos públicos a perigo
Apesar de ter sido nomeado para um mandato tampão de 180 dias, Temer, o amigo da onça, se comporta como um presidente eleito e já aproveitou para trocar todas as direções dos bancos públicos brasileiros. O que, sem dúvida, compromete o desenvolvimento do país, o emprego dos bancários, os direitos dos trabalhadores, as políticas sociais e etc.
No Banco Central, ele entronizou o economista-chefe do Itaú, Ilan Goldfajn. O cara defende terceirização sem limites. E quer a economia brasileira e o mercado de trabalho “desaquecidos”. Que frio.
No BNDES , o presidente interino colocou a administradora de empresas Maria Silvia Bastos. Ela já emplaca um pacote de maldades pesadas: anunciou a redução dos recursos do Banco para a indústria e quer acelerar as privatizações. Desemprego é o nome do jogo.
Banco do Brasil: agora sob a batuta do advogado Paulo Rogério Caffarelli. Também é alinhado com os grandes interesses do mercado, quer apoio ao comércio internacional e… defende as privatizações, é claro.
O presidente interino com pinta de vampiro escolheu para dirigir a Caixa o advogado Gilberto Magalhães Occhi. Ex- ministro da Integração Nacional do governo Dilma, Occhi pediu demissão em abril, depois que a bancada de seu partido, o PP, apoiou o impeachment. Pode-se esperar forte redução nas políticas públicas administradas pela Caixa.
E vamos em frente.
Texto: José Antônio Silva, jornalista.