Além de atingir diretamente os direitos dos trabalhadores, beneficiando apenas as elites do país e o rentismo internacional, o golpe parlamentar que afastou a presidenta Dilma parece ter tido outro componente forte. Conforme revelado em quebra de sigilo de Romero Jucá, novo ministro do Planejamento do governo interino de Temer, a configuração política atual visa também impedir que as investigações da Lava-Jato – que tanto golpeou o PT e seus apoiadores – chegue aos grandes nomes do PSDB, DEM e PMDB. Mais ou menos isso: alcançado o objetivo de fragilizar o Partido dos Trabalhadores e talvez prender Lula para impedi-lo de concorrer à Presidência de 2018, as forças mais corruptas do país decidiram pelo esfriamento da operação comanda por Sergio Moro.
A denúncia não é de nenhum site “petralha”. É da própria Folha de S. Paulo. Na gravação telefônica feita em março, quando o golpe estava sendo gestado, o líder de o moralizante governo Temer diz ao ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, que uma “mudança” no governo federal resultaria em um pacto para “estancar a sangria” representada pela Operação Lava Jato. Operação que, por acaso, investiga os dois.
Jucá, durante a fala interceptada, também garante que conversou com membros do STF sobre a derrubada da presidenta. E – com todas as letras – diz que Michel Temer é Eduardo Cunha, e Eduardo Cunha é Michel Temer. E que Aécio Neves tem um “esquema” de corrupção política.
É por estas e outras que batedores de panelas e outros indignados já não mostram tanto entusiasmo com a situação atual do país – vivendo sob um golpe parlamentar que é condenado por toda a grande mídia internacional, mas que na versão da imprensa e da oposição brasileira seria para “moralizar o país”.
Sem exagero, pode-se afirmar que o governo sem base popular do interino Temer é o reinado da hipocrisia. E que os seus “heróis” são piores do que os “bandidos”.
Mas vale ainda questionar: quem é o responsável pela gravação? E por que o conteúdo desta conversa que desnuda a trama podre para derrubar a presidenta eleita só foi divulgada agora, se a gravação foi feita em março – antes de correr a votação de impeachment de Dilma Roussef? A primeira questão ainda está para ser revelada. A segunda, que cada um que responda com sua inteligência e sua consciência.
Concurso público? Que concurso?
E há realmente fortes motivos para a população e os trabalhadores se preocuparem. Na presidência do Banco Central, Temer plantou Ilan Goldajn, banqueiro sócio do Itaú/Unibanco. A ótica privatista da administração interina ameaça diretamente os bancos e empresas públicas, e por tabela os direitos trabalhistas e até a realização de concursos. Hora dos bancários botarem as barbas de molho, unidos para evitar retrocessos e perda de conquistas.
Texto: José Antônio Silva, jornalista