Um avião, voando rápido nas alturas, carregado de gente com seus projetos, sonhos, alegrias e tristezas, talvez com algum temor, mas sempre com a esperança da chegada, é uma metáfora real da nossa vida. Se costuma dizer que a existência é uma viagem. Mas quando esta viagem não tem um fim – ou não tem o seu fim próprio e provável, a sensação é de um processo interrompido, que deixa um sentimento de frustração em todos os que sobreviveram ou acompanharam a trajetória.
Este é precisamente o caso da tragédia da Chapecoense. Um time pequeno, sem muitos recursos, de uma cidadezinha do interior do Brasil, que em poucos anos cresceu, surpreendeu e apareceu. E foi ceifado quando se aproximava de sua grande prova de fogo, de sua maioridade acelerada e mágica. Junto com o time, com seus dirigentes e equipe técnica, também partiram nesta viagem sem volta dezenas de jornalistas, responsáveis por testemunhar, registrar, interpretar e distribuir alegrias e frustrações.
Para todos os que ficam, além da tristeza, podem sobrar também algumas lições. Uma é de que com perseverança, planejamento e solidariedade pode-se, coletivamente, alcançar patamares inesperados.
Para os bancários e seus representantes, resta fortalecida a crença de que unidos, com coragem e determinação, é possível ir muito longe – como comprovam os muitos anos em que, apesar dos pesares, nossa categoria obteve aumentos reais.
Mesmo em situações adversas, como o panorama brasileiro deste ano, regido por um governo ilegítimo e que vem minando, com o apoio de um Congresso e um Judiciário cúmplices, as conquistas históricas dos trabalhadores, obtivemos um resultado digno em nossa campanha salarial.
Salve Chape! Salve as lutas e sonhos coletivos, que vencem barreiras e que mesmo as tragédias só conseguem adiar, nunca acabar.
Trabalho sujo no Congresso
Enquanto o país – e o mundo – se mostravam chocados com a tragédia da Chapecoense, o Congresso Nacional, através do Senado, completava neste dia 30 de novembro o trabalho sujo da Câmara Federal, aprovando o texto base da PEC 55, emenda à Constituição que congela os gastos públicos por 20 anos. Daqui duas décadas, em quanto por cento terá aumentado a população brasileira?
Isso ninguém sabe – mas o objetivo é manter sem reajuste setores como a saúde, a educação, a segurança, infraestrutura, meio ambiente, etc., etc., etc. Por outro lado, entrega-se ao capital multinacional riquezas como o Pré-Sal do país, cuja exploração deveria bancar o salto qualitativo da educação brasileira. Ou seja: “Os pobres que se explodam!”, como dizia um deputado-personagem do humorista Chico Anísio.
A dura regra reservada a massa de brasileiros e brasileiras não é aplicada, evidentemente, ao grande empresariado e aos bancos, muito menos amplia a taxação dos rendimentos das elites ou as grandes fortunas.
Terrível, mas nada que surpreenda os trabalhadores, vindo de um governo golpista que desde que assumiu interinamente a presidência, em maio de 2016, já teve cinco ministros escolhidos por Temer, homens brancos e ricos de sua total confiança, afastados por envolvimento em maracutaias as mais diversas. Ao mesmo tempo em que a presidenta eleita era afastada numa manobra obscura sem ter cometido nenhum crime de responsabilidade.
Os bancários não passam de lombo liso por esta saraivada de ataques ao emprego e aos empregados. Apenas no setor público: enquanto em SP um diretor do Banrisul anuncia à imprensa a redução de agências, o Banco do Brasil quer cortar 18 mil postos de trabalho e a Caixa fala em dispensar 11 mil funcionários.
Mas, você sabe, os golpes podem colocar mais obstáculos e atrasos às jornadas, porém não as impedem. No dia 12 de dezembro, haverá a votação da PEC em segundo turno. Uma nova oportunidade de reação para os trabalhadores.
Como ensina um velho dito gaudério: “Não tá morto quem peleia!”.
Uma outra forma de não esquecer o essencial: só a luta nos garante.
Fidel – a morte de um ícone polêmico
Não seria um exagero muito grande dizer que a morte de Fidel Alejandro Castro Ruiz, o cubano Fidel Castro, acontecida no último dia 25 deste mês de novembro, aos 90 anos, encerra de vez o longo Século XX. Considerado um ditador sanguinário por um segmento da sociedade; homenageado no mundo inteiro como um grande líder popular, que tirou da miséria e da ignorância um país inteiro, Castro já tinha garantido seu lugar na História ainda antes de fechar os olhos.
Filho de um rico latifundiário, Castro tomou contato com as ideias marxistas ainda na Universidade de Havana, onde estudava Direito, como uma resposta possível ao ambiente de degradação e miséria da Cuba do ditador Fulgência Batista. À época, nos anos 40 e 50, Havana era considerada o “Bordel da América”, onde bilionários, políticos e gângsteres norte-americanos faziam negócios escusos em seus escritórios, gabinetes governamentais e cassinos, enquanto a população passava fome. Já em 1953, ao comandar um ataque revolucionário ao Quartel de Moncada, Fidel foi preso.
Solto um ano depois, organizou no México um movimento para derrubar Batista, junto com seu irmão Raul e o compañero argentino Ernesto “Che” Guevara. Organizou a guerrilha na Sierra Maestra e finalmente, em 1959, os revolucionários chegaram ao poder. Aproximou-se politicamente da União Soviética, enquanto resistia a tentativas de assassinato pela CIA (e por cubanos que se exilaram em Miami), ao bloqueio econômico e até a uma invasão territorial através da Baia dos Porcos, em 1961. Em aliança com os russos, permitiu que eles instalassem mísseis nucleares na ilha, em 1962, no âmbito da chamada Guerra Fria.
O resto é história. Até hoje, Cuba se orgulha de seu sistema de saúde público e gratuito (que ajuda vários países com carências no setor, inclusive o Brasil, através do programa Mais Médicos), virtualmente eliminando a mortalidade infantil que grassava em seu país. Do mesmo modo a educação, que desde a alfabetização infantil à universidade é livre e responsável por uma população culta e bem informada.
Suas prisões sempre guardaram dissidentes e contrarrevolucionários. Para muitos, Fidel – 1º Ministro de 1959 até 1976, e Presidente de Cuba entre 1976 e 2008 – não passou de um líder cruel, que mandou fuzilar inimigos e espiões. Mas sua luta socialista inspirou milhares de pessoas, que no mundo inteiro se revoltaram contra a miséria e exploração imposta por governos fantoches, a serviço de grandes países do Hemisfério Norte.
Seja como for, pouco a pouco a democracia foi voltando ao regime do Comandante Fidel Castro, que em 2006 passou o poder maior ao seu irmão Raul, e que hoje testa sua abertura política e econômica.
É verdade que ainda há presos políticos na ilha. São os muçulmanos acusados de terrorismo pelos norte-americanos e detidos em um campo de concentração em Guantánamo, que os EUA mantém, sem qualquer justificativa legal, em pleno território cubano.