O golpismo é como um animal peçonhento, que avança sorrateiro, entre a sujeira e a lama moral, preferindo abrir caminho em lugares onde reina a corrupção, o jeitinho e o velho desrespeito às leis, ainda que sejam ambientes refrigerados, luxuosos e com cafezinho quente de dez em dez minutos. Este bicho de várias cabeças, que se molda facilmente aos objetivos que deseja – e tem como uma de suas características uma imensa hipocrisia – hoje transita soberanamente pelas casas legislativas, por gabinetes judiciais, algumas repartições policiais e as redações refrigeradas da super mídia. A pressão para retirar do governo a presidenta eleita Dilma Roussef deixa a oposição com os olhos raiados de sangue.
Temos um presidente da Câmara Federal réu em vários processos criminais, sobejamente comprovados, que no entanto jamais é preso ou incomodado pela lei. Ao contrário, continua dando suas cartas marcadas e até já determinou o dia 17 de abril – um domingo! – como data da votação do impeachment de Dilma.
Queira ou não admitir a oposição, se trata de uma conspiração que agora chegou ao estágio do vale-tudo.
Jornalismo comparado e manipulado
Sempre vale a pena observar as manchetes escolhidas pelos jornais para ver quem faz um trabalho mais profissional e de acordo com as regras da profissão, e quem utiliza o jornalismo com intenções políticas inconfessáveis. Nesta sexta-feira, 08 de abril, a capa do Correio do Povo mancheteia: “Doleiro confirma depósito de 5 milhões de dólares para Cunha”. Informação seca e objetiva.
Jornal do Comércio, mais voltado às finanças e economia, informa: “Estado pede ao STF o recálculo da dívida”. Mais objetividade.
Zero Hora, alinhada ao golpismo, ataca: “Delação cita propina para campanha de Dilma, mas PT nega”. Manchete carregada de subjetividade: “cita” (sem afirmar).
Primeiro, todos sabem que as delação da Lava-Jato são contestadas na origem já pelo modo autoritário com que são obtidas. Segundo, a própria coluna de Rosane de Oliveira, em ZH, diz que o “candidato não tem como saber se o dinheiro é sujo ou limpo ou que as doações para os adversários tenham saído do mesmo cofre”.
E mais ainda: citando o diretor da empresa que fez a delação, pode-se ler no meio do texto: “As doações para as campanhas de Dilma, em 2010 e 2014 foram feitas dentro da lei”.
Como se vê, a manchete de ZH configura manipulação da informação, com conclusões e ilações que a própria matéria do jornal desmente. Cria-se o fato na mente do leitor que só olha o título das matérias. Depois – quando vem o contraditório – eles dizem que não era bem assim.
Cada vez mais, no contexto político que atravessamos, é preciso ler e reler cada frase que a grande imprensa publica, para evitar de sermos todos manipulados.
Banrisul fazendo política antidemocrática
Um exemplo a mais de que os democratas e defensores da legalidade (na essência, a mesma Legalidade que Brizola defendeu em 1961) precisam ficar de olhos bem abertos, está no conteúdo do Informativo Afinidade do Banrisul, de número 34, distribuído aos clientes nesta semana. Ali, a direção do banco usa o veículo para posicionar-se contra a democracia. Na seção “Ambiente econômico”, afirma que, apesar da instabilidade, há hoje “um tom positivo (…) com o aumento das chances de uma interrupção do mandato presidencial”.
Ora, isto é botar água no moinho do impeachment, coisa que um órgão técnico de um banco público – que não pertence a este ou aquele partido, independente quem seja o governador – simplesmente não pode fazer.
Confira no link abaixo a matéria do SindBancários que desmonta o texto contraditório e golpista publicado no boletim do banco de todos os gaúchos e gaúchas.
Luta contra o assedio moral
O autoritarismo nunca anda só – e suas vítimas preferenciais são os trabalhadores e as parcelas menos protegidas da população. Os bancários e bancárias sabem muitíssimo bem disso. Para combater este mal, é preciso conhecê-lo – e por isso mesmo o Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região e o Instituto Defesa da Classe Trabalhadora (Declatra) lançaram, na última quarta-feira (06), no Paraná, o livro “Assédio Moral Organizacional – As vítimas dos Métodos de Gestão nos Bancos”. A publicação, fruto de uma extensa pesquisa, reúne artigos de advogados, médicos e especialistas de outras áreas que traçam uma análise sobre os métodos de gestão, o assédio moral e suas consequências na vida dos trabalhadores, além de estatísticas levantadas junto à Justiça do Trabalho, Ministério da Saúde, INSS e dados de homologações de demissões.
Você sabe: os banqueiros e seus representantes sempre argumentam que as metas são “desafiadoras” e não abusivas, e que casos de assédio moral são exageros dos gestores e gerentes. Nós, no SindBancários, sabemos que não se trata de disso. E o livro dos colegas de Curitiba ajuda a comprovar cientificamente que são os métodos de gestão aplicados pelos bancos os responsáveis por esta epidemia de adoecimentos variados na categoria.
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Texto: José Antônio Silva, jornalista – Ilustração: Bier