Sartori, Banrisul e privatização: a História se repete. E a mentira também
Neste final de 2016, o Rio Grande do Sul foi surpreendido pela aprovação da Assembleia Legislativa a mais de dez projetos do governo de José Ivo Sartori que explodiram com grande parte das fundações e empresas públicas gaúchas. Instituições fundamentais ao desenvolvimento econômico, científico, tecnológico e de informação e cultura foram aprovados pelos deputados da base de apoio de Sartorão. De boca aberta, muita gente se surpreendeu com o fim da FEE, Cientec, Zoobotânica, Fundação Cultural Piratini e tantas mais, que empobrecem a inteligência, a pesquisa e o conhecimento do estado e deixam mais de 1.200 servidores públicos desempregados.
Memória fraca
Quanto o governo irá pagar na contratação de “consultorias” privadas para fazerem o que fundações estaduais com larga experiência e competência reconhecida faziam muito bem?
Muitos dos que se surpreenderam com os golpes de foice de Sartori na estrutura administrativa gaúcha, parecem ter memória fraca ou falta de atenção. Durante a campanha eleitoral, o candidato do antipetismo respondia a questionamentos importantes com silêncios e piadinhas agressivas, como quando mandou os professores buscarem seu piso salarial em uma loja de materiais de construção.
Ainda assim, foi eleito pela maioria dos eleitores. E uma parcela destes eleitores crédulos, por certo, foi atingida diretamente pelo pacotaço neoliberal do governador. Assim como os que nunca o apoiaram. Mas ainda não terminou o desmantelamento das estruturas do estado e da sangria do funcionalismo público. Em breve, outros projetos de lei que reduzem o estado e desempregam serão votados pela Assembleia.
Sartori mente – e mente muito
É preciso entender, definitivamente, que Sartori mente. Na sua pasta de projetos atuais, em sintonia com o governo ilegítimo de Michel Temer, estão a privatização ou redução do Banrisul, do Badesul, da Sulgás, da CEEE e de outras empresas fundamentais ao desenvolvimento gaúcho. Duvidar é continuar acreditando que não vai chover quando a enchente já desce a encosta e nos arrasta para o abismo.
E não é de hoje que Sartori luta pelo estado mínimo neoliberal. Em 1996, como líder do governo de Antônio Britto na Assembleia Legislativa, em pleno período de FHC na Presidência da República, Sartori conseguiu aprovar a venda da CRT e de parte da CEEE. Na época, ele já encaminhava a venda do Banrisul, que só não aconteceu porque Olívio Dutra foi eleito governador do estado. Britto ia para a TV chorar lágrimas de crocodilo, dizendo que a oposição tinha “inventado” que ele iria vender a CRT. No fim, vendeu. Quem são os mentirosos?
A História se repete. E a mentira também
Está provado que a História se repete. E a mentira também. Assim, não há porque acreditar que Sartori não pretende vender o Banrisul. Para isso, ele precisa aprovar na Assembleia Legislativa o projeto de lei que acaba com a necessidade de plebiscito para entregar ao mercado o patrimônio do estado. Mas se não houver grande união de forças dos sindicalistas, cidadania, banrisulenses e população em geral, isto vai acontecer.
Crise, a eterna desculpa
E é hora de prestar atenção em outra mentira sempre repetida pelos privatistas. A de que a privatização de empresas e instituições públicas é para resolver a crise da dívida do estado. Pois bem, a venda da CRT e de parte da CEEE por Britto, lá nos anos 90, não resolveu absolutamente nada. Pelo contrário, a dívida só cresceu.
A palavra “crise” é usada abusivamente, pela direita, como um mantra para esfacelar as estruturas do estado. Esse fantasma da crise é utilizado sempre para tentar convencer a população a apoiar medidas contra ela mesma. Muitas vezes dá certo. Mas o que vem, no lugar do estado, é um mercado todo-poderoso, praticamente desregulado, que legitima o “cada um por si” e abandona setores inteiros da população a própria sorte.
Quem duvida, explique como vão ficar as pessoas que estudaram durante anos, se prepararam, passaram em concursos públicos, tinham estabilidade e hoje – com uma penada do governador neoliberal, aprovada por seus deputados na Assembleia Legislativa – estão no olho da rua? E, aos servidores que sobram, sobra também a tortura mensal dos salários congelados e fatiados. Aliás, Sartori já avisou que vai parcelar o 13º Salário em doze longas vezes.
As decisões tão radicais tomadas por Sartori não têm como motivo principal nenhuma crise ou ajuste fiscal: se assim fosse, ele deveria rever privilégios a grandes empresas, limitar isenções, cobrar devedores históricos e muito mais. A motivação carrega forte conteúdo ideológico: implantar de vez o estado mínimo, o que explica a pressa em tentar vender patrimônios governamentais que são lucrativos ao estado, como a Sulgás.
Sua receita é cortar pessoas e instituições. Mas qual o seu projeto de crescimento do Rio Grande do Sul?
Redução do Badesul
Aliás, a direção do Badesul já anunciou, em matéria de ZH Digital ( http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2016/12/futuro-do-badesul-tera-venda-de-operacoes-e-cortes-na-folha-de-pagamento-8946137.html ), que o banco será redimensionado para 2018, com redução de seu quadro funcional em 30%.
Não deixe que também o Banrisul seja entregue de mão beijada ao grande capital, que não tem o menor compromisso com o Rio Grande ou os gaúchos e gaúchas, e sim com os lucros e o rentismo.
Vale repetir: a História se repete e a mentira também. É fundamental não esquecer disso.
Texto: José Antônio Silva, jornalista