Novo governador volta a se contradizer ao fazer terceira venda de ações do Banrisul em um ano. Pregão não cobre nem 5% da folha líquida de pagamento dos servidores públicos
A venda de novo lote de ações preferenciais do capital social do Banrisul por fato relevante, na manhã da segunda-feira, 8/4, demonstra, mais uma vez, a verdadeira intenção do governador Eduardo Leite (PSDB) quando se trata do desmonte e da entrega do patrimônio público gaúcho. O governador que dizia na eleição respeitar o plebiscito já mandou projeto de lei para derrubar a obrigatoriedade na Assembleia Legislativa. É o mesmo governador que criticava o antecessor na Campanha Eleitoral pelas duas vendas de ações que este realizou em 2018. Agora, vende lote de ações por R$ 49,5 milhões no mesmo dia em que anunciou por fato relevante intenção de negociar papéis na B3.
O fato relevante do Banrisul (leia a íntegra aqui) descreve a intenção do governo do Estado de vender mais 2.046.962 ações preferenciais classe B do banco, das quais é controlador, em leilão na Bolsa de Valores. Este número de ações corresponde a 1,02% das ações e a 0,5% do capital social do banco público.
O fato relevante foi publicado e a posterior venda com poucas horas de diferença ocorrem dois dias antes da primeira venda de ações feitas pelo governo Sartori completar um ano. Tanto a operação de 10 de abril do ano passado quanto a de 24 de abril foram alvo de investigações por controladorias estaduais e federais, como MPRS, Polícia Federal e Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
O governo do Estado não explica porque vendeu e para onde vai o dinheiro da venda deste novo lote. Certamente, não se trata de uma transação que vá salvar as finanças do Rio Grande do Sul. Tampouco, resolve a crise fiscal.
Menos de 5% da folha de pagamento
Os R$ 49,5 milhões arrecadados no pregão são inferiores a 5% da folha líquida de pagamento dos servidores públicos do Estado, de cerca de R$ 1,2 bilhão. O governador disse que não ia privatizar o Banrisul e que não venderia ações para colocar no custeio. Mas, até o fim desta tarde (8/4), não disse para onde vai o dinheiro arrecadado neste leilão.
O presidente do SindBancários, Everton Gimenis, diz que o anúncio dessa venda já coloca o novo governador na galeria daqueles que faltam com a palavra quando o assunto é a comparação entre campanha eleitoral e administração. “O governador disse que ia chamar plebiscito para a população decidir sobre a venda de empresas públicas na campanha eleitoral e apresentou uma proposta para acabar com o plebiscito na Assembleia Legislativa. Em debates criticou o seu antecessor por ter vendido ações do Banrisul. E agora vende ações sem dizer onde vai colocar o dinheiro. Vai ser para a folha de pagamento como o Sartori fazia?”, argumentou Gimenis.
De olho nos passos do governo
Dia 3 de setembro de 2018 – Então candidato a governo do Estado, Eduardo Leite se compromete, no Programa Esfera Pública, da Rádio Guaíba, a fazer o plebiscito em até 6 meses caso seja eleito governador;
Setembro e outubro de 2018 – Em diversos programas de rádio, teve e na internet, Eduardo Leite mantém seu discurso. Em uma entrevista para a Ulbra TV, afirma que “Democracia é muito mais do que lançar a decisão para a população. É dar oportunidade do debate, da discussão.”;
28 de outubro de 2018 – Eduardo Leite é eleito governador do Rio Grande do Sul;
28 de novembro de 2018 – Zero Hora publica matéria em que afirma que Eduardo Leite estuda retirar plebiscito para privatização de estatais;
Dia 1º de janeiro de 2019 – Eduardo Leite toma posse como governador;
Dia 4 de fevereiro de 2019 – Eduardo Leite se reúne com o Ministro da Economia, Paulo Guedes, em Brasília. Paulo Guedes, por diversas vezes, afirmou sua vontade de “privatizar tudo”;
Dia 5 de fevereiro de 2019 – Pouco mais de um mês após assumir o governo, Eduardo Leite descumpre a primeira proposta de campanha e surpreende a todos ao apresentar, à Assembleia Legislativa, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 272/2019. Ela suspende a necessidade de plebiscito para privatização da CEEE, SulGas e CRM.
Dia 18 de março de 2019 – Bancários participam do ato “Plebiscito Já”, no Teatro Dante Barone, na Assembleia Legislativa, que fica lotado. O presidente do SindBancários analisa que o Banrisul está em risco e lembra que “onde passa o boi, passa a boiada”.
Dia 2 de abril de 2019 – CCJ aprova o texto da PEC 272/2019, por 9 votos a 3.
Dia 8 de abril de 2019 – Banrisul anuncia por fato relevante, a pedido do governo Leite, que quer vender mais um lote de ações do banco.
Olha o que ele disse no debate
Debate na eleição a seis dias do segundo turno do segundo turno de 2018, 22/10/2018:
Sartori: “Fico preocupado porque não sei mais com quem estou discutindo. Se é o candidato de ontem ou de hoje”.
Leite: “Isso é como vender os móveis da casa para pagar o almoço” (Atual governador depois de criticar a venda de ações do Banrisul pelo governo anterior e de dizer que era contra as privatizações).
Fonte: Imprensa SinBancários