Por três dias, Montevidéu se tornou a capital mundial do movimento sindical. Sede do Encontro Sindical Nossa América, o ESNA, a capital uruguaia recepcionou mais de 70 organizações sindicais de 19 países (a maioria das Américas, mas Europa e Ásia também estavam representadas) com o objetivo de aprofundar o debate sobre a conjuntura mundial e a crise econômica que vem colocando em risco os direitos, a dignidade e a integridade de milhões de trabalhadores em todo o mundo. O ESNA ocorreu de 31/3 a 2/4.
Ao final do encontro, um documento foi produzido coletivamente com uma agenda de lutas e um forte compromisso de princípios, defesa e solidariedade entre as nações. A “Declaração de Montevidéu” contempla os principais temas de consenso entre os países.
Sob o mesmo nome, foi lançado há 49 anos, em setembro de 1967, uma outra Declaração de Montevidéu, essa assinada pelo ex-presidente João Goulart que, exilado no Uruguai desde o golpe no Brasil, tentava junto à Frente Ampla (com Juscelino Kubitschek e outros) restaurar a democracia no país. O documento é um valioso libelo histórico em defesa da democracia, da liberdade e dos direitos dos trabalhadores.
Dirigentes do SindBancários, representantes da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e da Intersindical, também participaram do evento na capital uruguaia. “Foi importante participar de um evento internacional e conversar com trabalhadores de outros países. Se, no Brasil, o povo brasileiro está vivendo um período difícil em termos de política, podemos dizer que trabalhadores de todo o mundo enfrentam um mesmo problema. Há uma onda de ataques a direitos dos trabalhadores em todo o mundo. Aqui no Brasil, o Congresso Nacional tem 55 projetos que propõe acabar com direitos que custamos muito a conquistar, como a CLT, o 13º salário e as férias”, avaliou o secretário-geral do SindBancários, Luciano Fetzner.
A diretora da Fetrafi-RS e da CTB, Luiza Bezerra, lembrou da importância da unidade das lutas dos trabalhadores em todo mundo para enfrentar um ataque do sistema capitalista com o intuito de reduzir direitos, ampliar a exploração e os lucros. “Vivemos um período delicado na América Latina, em que as forças imperialistas tentam retomar o protagonismo que tinham anteriormente na região, contribuindo para a instabilidade política em diversos países, bem como colocando em risco a soberania dessas nações. Para enfrentarmos esse cenário é preciso que realizemos eventos como ESNA e que coloquemos em prática o Plano de Ação lá tirado. Somente a unidade entre os trabalhadores e trabalhadoras conseguirá resistir a ofensiva que vem por aí”, explicou Luiza.
No encerramento do evento, sábado, 2/4, Divanilton Pereira, secretário de relações internacionais da CTB e coordenador da FSM Cone Sul, destacou a representatividade do coletivo presente no ESNA neste momento de conjuntura adversa. “O encontro teve um resultado positivo, reviu paradigmas e formulou uma pauta concreta, com ações focadas na articulação unitária, defesa da democracia e valorização do trabalho: eixos fundamentais para a construção de uma nova proposta civilizatória”, diz ele.
Declaração de Montevidéu
Abaixo, a agenda apresentada pela Declaração de Montevidéu das ações combinadas entre todos os países presentes no encontro para este ano:
- Jornada mundial em solidariedade à Venezuela no dia 19 de abril de 2016.
- Jornadas continentais de 18 a 25 de maio de 2016, de luta em defesa da democracia, da soberania, da integração, dos direitos sociais e especialmente a defesa do direito à greve e contra a criminalização da luta social.
- Jornada pela retirada das tropas do Haiti em 1º de junho de 2016.
- Solidariedade com as lideranças sindicais e sociais que estão presas: Julia Amparo Lotan (Guatemala), Milagro Sala (Argentina), Huber Ballesteros, Oscar López (Puerto Rico preso nos EUA) e os 13 companheiros camponeses do Curuguaty no Paraguai; exigimos liberdade imediata.
- Reparação às família dos 43 desaparecidos no México, como parte da luta do povo mexicano.
- Reconhecimento da luta histórica do SME, desde sua autonomia de classe.
- Solidariedade com a luta da classe trabalhadora francesa contra reforma trabalhista que está em curso.
Não à ALCA
Desde o ESNA, convocamos a todos a lutar por estas demandas no 4/11, para promover uma grande jornada continental sem exclusões e lutar a favor da democracia, da paz, da integração soberana dos povos, dos direitos sociais, do direito à greve e outras reivindicações de nossos povos; e contra o livre comércio que sustenta as transnacionais e o imperialismo. A data escolhida é para comemorar o histórico Não à ALCA declarado em 2005.
Integração e mídia
Entre todos os países presentes, as diferenças não são tão expressivas quanto as semelhanças vivenciadas por suas trabalhadoras e trabalhadores nestes tempos em que o movimento sindical mundial enfrenta uma inflexão dramática após mais de uma década de avanços. Brasil, Paraguai, Venezuela, Argentina e Honduras são alguns dos países que sofrem diretamente com a ofensiva e ataques à liberdade sindical, criminalização de movimentos sociais, redução de direitos e violência da soberania nacional.
Mujica faz duro ataque ao poder capitalista mundial no Encontro Sindical Nossa América
Um inflamado discurso do ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica, que atacou o modelo capitalista e suas nefastas consequências em todo o mundo, marcou a noite inaugural do Encontro Sindical Nossa América (ESNA), na quinta-feira, 31/3, em Montevidéu.
Mujica lembrou que muitos trabalhadores morreram lutando por direitos que, por vezes, levaram décadas para serem conquistados e reconhecidos. Amaldiçoou o apelo do sistema capitalista que, em conluio com a mídia massificadora, forma cidadãos cada vez mais consumistas, alimentando o círculo vicioso do capital.
O admirado líder uruguaio afirmou que a América Latina enfrenta “uma época amarga” de sua história, mas ‘no hay que esmorecer’: “A imensa maioria dos povos compartilha de uma realidade que não é dos condes, rainhas e milionários. E o direito dessa imensa maioria tem de prevalecer”, disse ele a uma plateia de trabalhadores de mais de 70 organizaçõe sindicais de 19 países, na Universidade de la Republica, região central de Montevidéu.
Compuseram a mesa o reitor da universidade Roberto Markarian, o secretário geral da PIT CNT, central sindical uruguaia, Marcelo Abdala, a coordenadora do Centro de Estudos Sindicais, Gilda Almeida (CTB) e a sindicalista cubana Rosele Rodrigues.
Leia abaixo a íntegra da Declaração de Montevidéu
Fonte: Portal CTB, de Montevidéu