Dirigentes sindicais denunciaram utilização do programa de gestão de competência contra funcionários do BB
A rotina de trabalho dos funcionários do Banco do Brasil da rua Uruguai, centro da Capital, começou diferente nesta quarta-feira (19). Assim que chegavam ao prédio, os bancários e bancárias eram recepcionados por dirigentes do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região, que alertavam os colegas sobre a prática de assédio moral relacionada à utilização da GDP dentro do banco.
Criada para auxiliar no desenvolvimento dos funcionários, com o intuito de melhorar seu desempenho, a GDP – Gestão de Desempenho Profissional por Competência e Resultados está sendo utilizada de forma distorcida. O feedback dado no programa, que serviria como incentivo para os bancários buscarem seu aprimoramento, hoje é colocado como um registro de mau desempenho do funcionário, com vistas ao descomissionamento.
“Queremos trazer aos colegas a reflexão a respeito de como a GDP está sendo utilizada como ferramenta de assédio, penalizando o funcionário em vez de ser uma ferramenta que o auxilie em seu aprimoramento”, explicou Priscila Aguirres, funcionária do BB e diretora da Fetrafi-RS. A dirigente lembrou que os canais do Sindicato estão à disposição para que os bancários enviem seus relatos e subsidiem as ações da entidade tanto no trato com o banco quanto com o Ministério Público.
Em pequenos grupos, bancários e bancárias receberam um material explicativo sobre a utilização descaracterizada da GDP e dialogaram com sindicalistas, que reafirmaram a importância da união entre a categoria bancária para que se possa interceder junto ao banco. Segundo o diretor do SindBancários Rogério Rodrigues, também funcionário do BB, é possível reverter esse processo, mas é necessário o apoio dos funcionários. “Faremos tudo que estiver ao nosso alcance para que a GDP não seja utilizada como instrumento de punição”, reiterou.
O dirigente explica que a GDP foi uma conquista como forma de aprimoramento dos empregados e como forma de evitar assédio estrutural do banco, já que o resultado do programa sempre foi multifatorial, ou seja, a nota de vários empregados, não só do gestor. “Participavam da avaliação também os laterais e a própria autoavaliação, o que diminuía as chances de um eventual assédio estrutural”, comenta Rogério. Na avaliação do SindBancários, o que se nota é que a partir do momento que decide fazer o descomissionamento através de uma reestruturação em 2018, o banco passa a avaliar os funcionários de forma negativa, independentemente do resultado, só com a finalidade do descomissionamento.
O que o Sindicato tem criticado é a utilização desvirtuada da GDP, que é hoje uma nota negativa apenas para cumprir o critério de descomissionamento. “É impossível acreditar que, de uma hora para outra, todos ou uma grande massa de empregados descomissionados passaram a atuar de forma desleixada a ponto de ser negativamente avaliados”, complementa Priscila Aguirres.
Adoecimento é uma realidade
A diretora da Fetrafi-RS e conselheira da Cassi Cristiana Garbinatto chamou atenção para o perigo de adoecimento com as condições de trabalho dentro do Banco do Brasil.
“Estamos atrasando um pouco a entrada dos colegas com esse alerta porque acreditamos que esse pequeno atraso seja um ganho de vida ali na frente, se a gente conseguir olhar um para o outro, olhar para os colegas e ver que estamos todos na mesma situação, submetidos à pressão, metas absurdas e assédio moral. Não é normal as pessoas gritarem em uma reunião ou menosprezar um trabalhador ou trabalhadora, não é admissível o que estamos vivenciando no nosso ambiente de trabalho”, denunciou Cristiana, que afirmou ainda que o uso de remédio tarja preta e a busca por internações psiquiátricas são uma realidade entre os colegas do Banco do Brasil.
O diretor Ronaldo Zeni ressaltou que os três ciclos do GDP foram uma conquista das campanhas salariais como um benefício para garantia dos funcionários e, portanto, não se pode aceitar que hoje seja utilizado contra os trabalhadores. “O banco que nós queremos é muito diferente desse que está aí. Já tivemos um BB estável, onde planejávamos uma carreira do início ao fim, sem essa pressão de a cada ciclo de GDP pensar se vai ter a garantia de pagar a escola do filho ou não. O Banco do Brasil que buscamos é um banco que seja realmente público, útil à sociedade, que desenvolva a riqueza da população e não explore como vem fazendo hoje, onde se possa estabelecer uma carreira, e não esse que está colocado atualmente no mercado como um banco privado”, defendeu o dirigente.
Texto: Amanda Zulke/Imprensa SindBancários
Foto: Amanda Zulke e Caio Venâncio