Coutinho passa pano para si mesmo na ALERGS

Presidente do Banrisul exaltou sua gestão, admitiu entregar controle da Banrisul Cartões, mas deixou de responder perguntas dos deputados na sabatina da quarta-feira, 18/8, para proteger a mão pesada do governador Eduardo Leite que ameaça o Banrisul público

Um dos princípios liberais do filósofo e economista Adam Smith em seu livro Riqueza das Nações, de 1776, foi abandonado por dileto operador de ideologia radical de livre mercado mais recente. Se, no século 18, o filósofo inglês propunha o conceito de “mão invisível do mercado”, como uma proposição filosófica sobre a qual se deitava ideia de mercado capaz de se regular sem que o Estado tivesse que se meter, mais de 200 anos depois, a mão mostrou-se mais pesada do que nunca.

A sabatina do presidente do Banrisul, Claudio Coutinho, na tarde da quarta-feira, 18/8, na Assembleia Legislativa, sobre a Banrisul Cartões, foi um desfile de convicções seculares redesenhadas ao sabor do neoliberalismo que depena o estado aqui dentro das fronteiras gaúchas.

A mão de Coutinho é a extensão da mão do governador Eduardo Leite (PSDB). Dileto e escolhido a dedo como um homem que reunia as habilidades de fatiar e vender a coisa pública, Coutinho se saiu pior que a encomenda para os trabalhadores do Banrisul.

Sua mão já pesa muito sobre o Banrisul público. Desde 2019, quando assumiu o banco público dos gaúchos, no mês de julho, ele tem seguido a cartilha da decrépita veia do liberalismo inglês sob a forma de um neoliberalismo de mercado. Depredar empresas públicas, carcomer suas entranhas e vende-las como se não fossem eficientes. Essa é a fórmula da austeridade, escorada por um discurso mais amplo de ataque a servidores públicos, congelamento de salários e aumento de impostos.

Fechar agências do Banrisul, demitir funcionários por PDV, ampliar as metas, não fornecer máscaras PFF2, admitir até mesmo entregar controle acionário da Banrisul Cartões. E ainda podemos perguntar: por que sua mão pesada se estende desde o Rio de Janeiro, se ele poderia estar em home office em Porto Alegre?

Em pouco mais de uma hora e meia, Coutinho ao lado do diretor comercial do banco, Fernando Postal, foi sabatinado por um grupo de deputados estaduais aguerrido. Apenas deputados do PT fizeram perguntas, travaram embate cuja premissa era buscar contradições e demonstrar, por meio de uma inequívoca sucessão de fatos, que a administração de Coutinho, se não é desastrosa, poderia ser muito melhor.

Ficou claro que o Banrisul perdeu terreno com o financiamento público. Basta acessar o site da B3 para saber que as ações do Banrisul caíram. Ou, melhor dizendo, não se levantam.

Sua mão é hábil em esconder a falta de virtudes. Para ele, a venda da Banrisul Cartões faz parte de um dilema estrutural em que o Banrisul está metido. Não pode mais crescer para fora do Estado em número de agências, porque Coutinho as mandou fechar, e precisaria investir na aventura de ampliar sua carteira no campo virtual do sistema financeiro. Daí, chamar o JP Morgan para prospectar parceiros – que possam até ficar com a maior fatia da Banrisul Cartões – e procurar ampliar a marca Vero (ou outro nome quem sabe) para além do Rio Mampituba.

Coutinho, em resumo, pensa que o Banrisul precisa ter menos funcionários para concorrer no mundo virtual. Mesmo que o custo seja a sobrecarga de trabalho, a falta cada vez mais sentida de funcionários para o atendimento nos caixas. Cuidado, concurso público pode causar urticária no presidente do Banrisul. Mesmo que símbolos dos Banrisulenses morram à míngua. Esse é o problema de Coutinho: ele acha que matar o Banrisul aos poucos vai torná-lo mais forte.

O presidente do SindBancários, Luciano Fetzner, logo após a sabatina do presidente na Assembleia Legislativa, teceu comentários em um programa do SindBancários transmitido ao vivo pelo perfil do Sindicato no facebook. Luciano falou do dia produtivo de luta dos Banrisulenses, dos atos dos servidores públicos contra a reforma administrativa. Estranhou a baixa presença de deputados da base do governo Leite para um debate mais aprofundado. E, claro, criticou a visão de entregador de Leite quando o assunto é o Banrisul.

“O governo Leite está de costas para o Estado do RS, pensando em seu projeto nacional. Infelizmente, essas tantas dúvidas não foram respondidas pelo Claudio Coutinho na sabatina. Ele diz que não se descarta a entrega do controle acionário da Banrisul Cartões”, comentou Luciano.

Assista à transmissão aqui.

“Todos os bancos do sistema financeiro necessitam competir e se modernizar. O Banrisul sempre foi referência em tecnologia. Essa gestão vem infelizmente sucateando o banco, inclusive o setor de TI. É com muita tristeza que chegamos a esse ponto. Muitas perguntas com as preocupações dos colegas não foram respondidas”, acrescentou o presidente do SindBancários.

Numa dessas não respostas, Coutinho deixou de dizer se é cobrado pelo governador Eduardo Leite sobre os problemas que envolvem o Banrisul. Afinal, o crédito se reduziu, o Banrisul não ganhou musculatura de correntistas. E, se é verdade que o banco precisa dar um cavalo de pau tecnológico, faria algum sentido demitir ou implodir o Centro de Formação Serraria?

Para o diretor da Fetrafi-RS, Sergio Hoff, estamos diante de uma conta que não fecha, mas que se explica pela ideologia de austeridade de Leite. Coutinho é um operador do neoliberalismo à gaúcha. Que já entregou a CEEE-D por R$ 100 mil e que avança sobre Corsan, Procergs e Banrisul, depois que aprovou, de forma suspeitíssima, a PEC 280/2019, na Assembleia Legislativa.

“Ele usou a pandemia para se esconder sobre os resultados. Tentou devolver a culpa para os funcionários. Acho curiosa a fala dele quando nós [dirigentes sindicais de todo o Estado] estamos cobrando que tenha fornecido máscaras PFF2 para cada funcionário trabalhar. Eles entregaram duas máscaras de pano para as pessoas”, contou Sergio.

Bom momento para usar uma gíria que pode resumir o que Claudio Coutinho fez por cerca de uma hora e meia na Assembleia Legislativa por si mesmo: passou pano para a sua administração.

Até quando tentou ser humanista, Coutinho parece ter esquecido que os Banrisulenses ficaram se máscaras decentes, mesmo ante seu esforço de pensar mais nas vidas e saúdes do que no negócio. Quem sabe o banco estivesse mais fortalecido se, além do home-office, o Banrisul desse o exemplo de distribuir máscaras PFF2 gratuitamente.

Fiquemos com as máscaras de pano. Leite e Coutinho, Coutinho e Leite, formam dupla neoliberal das mais clássicas que se poderá ver por esses pagos. Além de querer entregar a joia da cora da gauchada, os dois têm planos para fora e além do Mampituba. Um poderia ter feito home office em Porto alegre e aproveitado para conhecer novas praças do RS. O outro… Bem, o outro, só quer saber de ser presidente.

Leite não poderá brincar com a mão dos gaúchos e gaúchas. São os dedos dessas mãos que apertam as urnas eletrônicas no ano que vem. Nós, Banriuslenses, já deixamos bem claro para vocês: como nem uma campanha de valorização do Banrisul a diretoria e o governo do etado são capazes de ter iniciativa. O simples e singelo #EuSouBanrisul fala demais do que essa dupla não tem feito.

Essas quatro mãos pesam demais sobre o Banrisul público. O Rio Grande saberá responder. Nem o Rio Grande do Sul, nem o Banrisul, nem os gaúchos, as gaúchas e, muito menos os(as) Banrisulenses e o Banrisul, merecem ser o plano B de ninguém.

Como foi a sabatina de Coutinho

Sentado entre o diretor comercial do Banrisul, Fernando Postal, e o presidente da Assembleia Legislativa, Gabriel Souza, Claudio Coutinho, dividiu a mesa presencial também com o presidente da Comissão de Economia e da frente Parlamentar em defesa do Banrisul Público, deputado estadual Zé Nunes (PT). O líder do governo na ALERGS, deputado Frederico Antunes (PP), também esteve presente. Leia a seguir alguns dos momentos mais importantes da sabatina de Coutinho na ALERGS.

Motivos do convite

O presidente da Assembleia Legislativa, Gabriel Souza, esclareceu o motivo do convite a Claudio Coutinho a necessidade de esclarecimentos sobre o fato-relevante, emitido pelo banco em 14 de julho, sobre “eventual venda de ações e aumento do capital social da marca Vero [Banrisul Cartões]”.

“O banco tem como controlador majoritário o Estado do RS. A Assembleia Legislativa tem todo o interesse. É um assunto que diz respeito a um patrimônio público. Entender quais sãos esses movimentos e quais são os impactos na função social do banco”, foram alguns dos motivos elencados pelo deputado Gabriel Souza para justificar a sabatina.

Palavras de Coutinho

Fato-relevante

“Não só em respeito às normas da CVM. Temos um mandato envolvendo o JP Morgan. Evolução negocial. Certas negociações a outra parte alteraria a disposição para pagar determinado preço. (…) Segredos estratégicos comerciais só podem ser revelados após a negociação. O mandato do JP Morgan para fazer um estudo no início de 2020. A ideia de qualquer possível transação, com a pandemia, incertezas da economia. Estudo mais completo com indicações de rumos que a Banrisul Cartões deveria tomar. Antes de tomar qualquer providência, fizemos o fato-relevante. Não há nenhuma negociação com nenhuma contraparte em curso. Trabalho do JP Morgan preparando dados para se houver algo (…) uma vez que haja, faremos outro comunicado ao mercado.”

Escala além-fronteiras

“Fazer algum movimento para que tenhamos escala. Só as fronteiras do Rio Grande do Sul não são suficientes para manter a escala dessa operação. Até o momento temos sentido essa pressão de custo, mas não tem afetado nossos resultados. Durante a pandemia, para atendermos nossos clientes, isentamos taxas. Zeramos o pagamento de aluguel. De forma permanente, estamos sendo acossados pelos nossos competidores que têm uma estrutura de custos com capacidade de nos fustigar e nós não temos essa capacidade.”

Sócio ou parceria

“Uma parceria, um sócio, que aumentaria o capital para que tenha robustez, capital para empreender uma saída do Rio Grande do Sul para termos escala em nível nacional. O mercado financeiro está debaixo de uma ruptura muito grande de novos entrantes no mercado. O Nubank tem 40 milhões de clientes. Tem a ver com a capacidade financeira que os nossos concorrentes têm. Se não tivermos uma capacidade financeira para contra-atacar, vamos ser encostados contra a parede. Nossas margens ainda estão sob controlo. O resultado está dentro do esperado. A Vero teve lucro de 120 milhões no primeiro semestre.”

Perguntas de deputados e respostas de Coutinho

Deputado Zé Nunes (PT)

O deputado Zé Nunes ponderou que o Banrisul valia R$ 11 bilhões antes de Coutinho assumir em julho de 2019 e que agora vale cerca de R$ 5 bilhões. Também abordou a questão de a diretoria do banco estar com dificuldades de encontrar um rumo, pois que, mesmo depois do fato-relevante, o valor das ações caiu. A principal pergunta foi saber o que ele pretende fazer para ajudar a recuperar o valor do Banrisul e se a venda da Banrisul Cartões ajudaria a recuperar o valor.

Claudio Coutinho: “O preço de mercado o BB é muito alinhado ao problema do BB. Os analistas de mercado olham para o Banrisul da mesma forma que olham para o BB: um banco de varejo com controle estatal. Quando da minha vinda ao RS o mercado tinha uma expectativa muito grande da privatização. À medida que isso ficou claro que não ia acontecer (…) não me sinto responsável na minha gestão em fazer a ação do banco subir. Minha missão é fazer uma boa gestão. Quem olha uma ação não está olhando para um ano, mas para 10 anos.

Pepe Vargas (PT)

O deputado Pepe Vargas avaliou que a leitura do fato-relevante sobre a Banrisul Cartões não deixa a estratégia clara. Pepe lembrou que, em 2018, a tentativa de abertura de capital da Banrisul Cartões foi fracassada. As perguntas centrais disseram respeito ao fato de saber se a busca por um sócio estratégico à Banrisul Cartões seria para entregar o controle acionário e se algum player do mercado aceitaria não ter controle acionário.

Claudio Coutinho: “Obviamente que a intenção não é fragilizar. Tenho um dever de lealdade coma companhia. Estou ali para fazer o melhor para o Banrisul. Nunca estaria ali parta fazer o pior. Ao contrário. Aqui a preocupação é com a saúde financeira do conglomerado como um todo, tentando buscar o melhor para o conglomerado. Só vai fazer a operação se ela for mais rentável do que se não o fizesse. Lucros da Banrisul Cartões representa em torno de 20% dos resultados do banco. Os números são importantes, mas são insuficientes para uma expansão nacional. Estamos iniciando um projeto de expansão regional, mas no limite de nossas possibilidades.

Gabriel Souza

O presidente da Assembleia Legislativa comparou a Banrisul Seguros e a Banrisul cartões e questionou se o mercado para a Banrisul Cartões é mais próspero. Também perguntou se a direção tem interesse em vender o controle acionário da Banrisul Cartões para um banco concorrente.

Claudio Coutinho: “Sobre a questão do concorrente, tudo vai ser ponderado. Vamos ter acesso a quem são os que estão se interessando. Dependendo do posicionamento do mercado pode ser inviável por causa disso.”

Jeferson Fernandes (PT)

O deputado Jeferson Fernandes exaltou importância para os gaúchos do Banrisul público. E essa importância, segundo o deputado diz respeito não apenas à área comercial, mas também ao papel de banco público que tem contribuições ao desenvolvimento do Estado. Dentre as perguntas centrais, Jeferson questionou sobre se Coutinho seria vocacionado para administrar um banco público, uma vez que o valor do Banrisul caiu 50%. Também fez as seguintes perguntas não respondidas por Coutinho: “O governador não cobra resultado? Não busca dialogar sobre o que está acontecendo?”

Claudio Coutinho: “Discordo da colocação sobre fragilidade desde 2019 para cá. Em 2019, o Banrisul bateu recorde de seu lucro. Em 2020, o resultado foi fraco por causa da pandemia. (…) Quanto ao preço de mercado. Se tem expectativas. Eu não controlo preço de mercado. Hoje o mercado precifica muitos riscos empresas de controle público. Isso está acontecendo com a Petrobras, com o Banco do Brasil.”

Assista aqui à íntegra da sabatina de Claudio Coutinho na Assembleia Legislativa, na quarta, 18/8.

Fonte: Imprensa SindBancários

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