Um ilustre representante de um esforço historiográfico para contar o drama da escravidão do homem e da mulher negra no Brasil esteve na Casa dos Bancários, na tarde da quarta-feira, 14/7. O professor de História Waldemar Moura Lima, quilombolista e ativista social, se reuniu com integrantes do Coletivo Étnico do SindBancários para tratar da ampliação do debate sobre a Consciência Negra. Já é tradição que o SindBancários realize em novembro a Semana da Consciência Negra. Mas a reunião com o ilustre visitante encaminhou a necessidade de ampliar para todo o ano os debates sobre a cultura negra no Brasil.
O diretor da Fetrafi-RS e integrante do Coletivo Étnico do SindBancários, Edison Moura, disse que a reunião foi bastante produtiva e encaminhou a necessidade de abrir a programação da Semana da Consciência Negra do SindBancários para todo o ano. “Já estamos trabalhando na organização da Semana da Consciência Negra. Vamos manter a nossa tradição de reverenciar e contar a história do nosso povo tendo como referência o Dia da Consciência Negra, 20 de novembro. O mestre Pernambuco irá participar, mas este ano temos como proposta realizar outras atividades além da nossa semana”, explicou Edison.
O Mestre Pernambuco deve participar. A ideia é realizar seminários preparatórios, painéis e oficinas para cultuar a cultura africana brasileira. “O Mestre Pernambuco nos deu uma aula de história dos nossos ancestrais e da escravidão neste encontro. Ele dedica a sua vida a pesquisar e divulgar a história da escravidão como ela realmente aconteceu”, acrescenta Edison.
Um dos ensinamentos que ele trouxe para o Coletivo Étnico diz respeito a uma distorção histórica relacionada à resistência dos negros escravos no Brasil. Mestre Pernambuco costuma dizer que a história não conta de fato que muitos negros resistiram e lutaram contra a escravidão. Zumbi dos Palmares é um símbolo dessa luta e por isso o 20 de novembro marca a data de sua morte. Mas houve famílias de negros inteiras que cometeram suicídio em nome da resistência e como protesto. Mestre Pernambuco costuma dizer que os mais de 300 anos de escravidão no Brasil foram marcados pela existência de muitos heróis negros anônimos.
É preciso contar essas histórias. Mestre Pernambuco é um homem muito envolvido com o carnaval de rua de Porto Alegre. Foi um dos responsáveis por manter viva a chama do Carnaval de Rua na Cidade Baixa. É fundador do Bloco Rua do Perdão e da Banda de K. Resistiu aos anos de chumbo da Ditadura Militar (1964-1985). No Carnaval de 2016, o Bloco Maria do Bairro, tradicional bloco da Rua Sofia Veloso, do Bairro Cidade Baixa, o homenageou com o samba-enredo “Se a Sofia Virar Mar, eu quero é Pernambucar”.
Letra do samba do Bloco Maria do Bairro em homenagem a Mestre Pernambuco
“Se a Sofia Virar Mar, Eu quero Pernambucar”
Um Samba de Sapiran Brito & Zeca Brito
Veio da banda da lá
Do cangaço, do Sertão,
Do quilombo dos palmares
Para Rua do Perdão
Três mulheres recebeu
Pela graça de Xangô
Gabriela deu pra todos
A Rosa lhe enfeitiçou
Mas foi Maria Bonita
A gostosa que levou
Ferve Maria que o bixo vai pegar
Hoje eu vou cair no Frevo
Hoje eu quero me acabar.
Pernambucando até o dia clarear,
Se a Sofia Virar Mar. Eu quero Pernambucar.
Fonte: Imprensa SindBancários