Defendido por Paulo Guedes, modelo chileno de capitalização da previdência, implantado na Ditadura de Pinochet, provoca revolta da população
Apesar das medidas rigorosas de isolamento social para evitar a disseminação do novo coronavírus (Covid-19), os chilenos fizeram barricadas e panelaço em apoio a um Projeto de Lei que permite à população sacar parte da aposentadoria durante a crise econômica provocada pela pandemia. Desde 2019, os trabalhadores fazem manifestações contra o modelo de capitalização da previdência que está levando os idosos à miséria – alguns por não conseguirem se aposentar, outros por ganharem menos de um salário mínimo do país por mês.
Este cenário levou a maioria dos parlamentares da Câmara dos Deputados do Chile a aprovar, por 95 votos a favor, 36 contra e 33 abstenções, a proposta de uma reforma constitucional, que permitirá aos afiliados às Seguradoras de Fundos de Pensões (AFPs) sacar até 10% de suas poupanças da aposentadoria.
Peru também aprova
A proposta, aprovada no último dia 15/07, conseguiu votos favoráveis até de deputados da base de apoio do presidente Sebastián Piñera, totalmente contrário à medida, e foi encaminhada ao Senado, onde também precisa ser aprovada. Em abril, uma proposta semelhante, para uma retirada de 25%, foi aprovada no Peru, outro país que adotou esse sistema previdenciário.
Reforma do sistema
A aprovação da proposta, apoiada por 80% da população chilena, é o primeiro passo para a reforma do sistema de capitalização da previdência do Chile, pioneiro no mundo, e rejeitado pelos chilenos porque reduz terrivelmente os valores retirados da poupança a título de aposentadorias.
Ditadura
O sistema de capitalização da aposentadoria chileno foi implantado durante o governo do ditador Augusto Pinochet, em 1981, e substituiu o modelo solidário, onde aqueles que trabalham ajudam a pagar as aposentadorias dos que já estão aposentados, igual ao modelo brasileiro.
Pelo modelo de capitalização, cada trabalhador abre uma poupança e deposita quanto der e quando puder para conseguir se aposentar no futuro. Ao contrário do modelo de solidariedade, no modelo neoliberal da capitalização, nem governo nem empresários contribuem com a aposentadoria, apenas o trabalhador.
Modelo falido
E é esse modelo previdenciário falido, que está matando chilenos idosos de fome, o que o ministro da Economia, Paulo Guedes, quer implementar no Brasil.
Um quinto do salário
Entre 2006 e 2015, a ex-presidenta chilena Michelle Bachelet montou comissões para revisar o sistema previdenciário do país porque percebeu que os primeiros trabalhadores a se aposentarem pelo modelo de capitalização, a partir dos anos 2000, recebem o equivalente a até um quinto do salário da ativa e que uma grande massa de pessoas estava sendo excluída do sistema previdenciário porque era incapaz de contribuir com regularidade por ganharem pouco ou não terem empregos formais.
Metade da população é excluída
Em entrevista publicada no Sul21, em 2019, no auge dos protestos dos trabalhadores chilenos contra a capitalização da previdência, Andras Uthoff, economista e professor da Faculdade de Economia e Negócios da Universidade do Chile, disse que a comissão percebeu que o sistema excluía metade da população idosa, que não ia ter nenhuma aposentadoria. Muitos adultos de classe média ficaram pobres e milhares ficaram na miséria. No Chile, capitalização transformou adultos de classe média em idosos pobres
Fonte: CUT Brasil