Cerrar os punhos contra a selvageria de norte a sul

Basta passar os olhos nas folhas dos jornais, sintonizar o rádio e a TV. Fuçar nas redes sociais e na troca de ideias com parentes, vizinhos e colegas de trabalho, para sacar que o racismo, a intolerância e a discriminação se expandem como centopeias famintas. São ágeis, se amoitam durante o dia. Nas noites, deixam suas frestas e vagueiam com suas tantas patas contaminando criminosamente as bolhas da Internet e a atmosfera social do Brasil

A ex-jogadora de vôlei Sandra Mathias Correia de Sá pode ser presa pela prática de injúria, por preconceito e lesão corporal. No dia 4 de abril, ela xingou e bateu em entregadores de uma loja em São Conrado, no Rio de Janeiro. Depois de puxar a camisa e dar socos no entregador Max Ângelo dos Santos, Sandra pegou a guia da coleira do cachorro e desferiu chicotadas nas costas do trabalhador. “Me chamou de marginal, preto, favelado e disse que em São Conrado não era o meu lugar”, lamentou o entregador, em entrevista à Rede Globo. As imagens viralizaram mundo afora.

“Não vamos admitir o racismo”

Em Curitiba, após ser perseguida por um segurança enquanto fazia compras no Atacadão do Carrefour, a professora Isabel Oliveira registrou boletim de ocorrência depois de tirar a roupa em protesto contra racismo no interior do supermercado. A educadora foi à delegacia acompanhada de representantes do movimento negro. A Polícia Civil do Paraná abriu um inquérito para apurar crime de racismo. O caso foi comentado na segunda-feira, 10, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Um fiscal do Carrefour acompanhou uma moça negra que ia fazer compras, achando que ela ia roubar. Ela teve que ficar só de calcinha e sutiã para provar que não ia roubar. Então, a gente tem que dizer para a direção do Carrefour, se quiserem fazer isso no seu país de origem, que façam, mas no Brasil a gente não vai admitir o racismo”, sentenciou.

Mão na cabeça e documento

Também no dia 10, um homem flagrado com tatuagens de símbolos nazistas foi indiciado por racismo. Um estudante estava no Largo do Machado, Centro do Rio de Janeiro, quando viu os desenhos na pele do homem. O nazi foi levado a uma delegacia. A cantora Luedji Luna, 35, relatou nas suas redes sociais, no sábado, 8, que sofreu racismo em uma abordagem policial. A ação aconteceu enquanto ela procurava por uma casa no centro de São Paulo. “As pessoas realmente acham normal abordar com arma em punhos uma mãe de família, um pai de família, e uma criança de 2 anos”, lamentou a cantora. Na sexta-feira, 31, um vídeo mostrou um ataque racista de estudantes fazendo bullying contra uma adolescente negra, chamada Vitória, e ridicularizam a jovem pela aparência do seu cabelo. O ataque aconteceu na Escola Estadual Flávio Ribeiro de Rezende, Rio de Janeiro. “Quem conhece a história dessa menina, sabe o quanto isso vai doer nela”, comentou uma internauta ao compartilhar o vídeo, que viralizou.

Intolerância e brutalidade

O professor e advogado José Vicente, militante do movimento negro e reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, divulgou um levantamento do racismo no Brasil, publicado na revista Veja, em 13 de Maio 2022. Quase um ano depois, suas palavras seguem valendo. “A intolerância racial tem mostrado uma rotina de brutalidade e selvageria contra os cidadãos consumidores negros”, aponta João Vicente. No levantamento, sem especificar as datas dos eventos, o reitor monta um cenário de dor. “O negro João Alberto Silveira Freitas foi assassinado a socos no Carrefour de Porto Alegre; o negro Pedro Henrique de Oliveira Gonzaga foi morto enforcado no Supermercado Extra, no Rio de Janeiro; os negros Bruno Barros e Yan Barros, tio e sobrinho, foram aprisionados, entregues e assassinados a tiros por traficantes de drogas no Hipermercado Atakarejo, em Salvador, na Bahia; um jovem negro de 17 anos foi despido, amarrado, amordaçado e chicoteado com fios elétricos no Supermercado Ricoy, em São Paulo; o negro Luís Carlos da Silva, 56 anos, foi forçado a se despir, na frente de clientes, na loja do Atacadista Assai, na cidade de Limeira, São Paulo; o jovem negro e imigrante congolês Moize Mugenyl Kabamgade teve amarrados mãos e pés e foi assassinado a pauladas num quiosque de praia na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. E a negra Ana Paula Barroso, delegada, foi impedida de entrar na Loja Zara, do Shopping Iguatemi, em Fortaleza, no Ceará”, finaliza a cruel diagramação.

Cerrar os punhos

No Brasil, o racismo é configurado por mais de três séculos de escravidão. A luta contra a exploração e pela igualdade social fazem parte da construção da identidade nacional. Em unidade com distintos seguimentos, até do estrangeiro, as elites do país varonil fazem de tudo para deixar a população negra liderando trágicas estatísticas. O momento, portanto, é de resistir à violência racial, combater sem trégua o capitalismo, que dilacera a todos nós. Lutar pela liberdade, cerrar os punhos contra o preconceito e a exclusão social de pessoas com base na cor de sua pele. Agora, precisamos reconstruir o Brasil e seguir juntos rumo a uma sociedade igualitária e antirracista.

Fontes: João Vicente, publicações do Movimento Negro, Veja, jornais FSP e o Globo

Texto: Moah Sousa/Assessoria de Comunicação do SindBancários/POA-RS

Imagem: Colagem presente no livro “Mulheres, Cultura e Política”, de Angela Davis 

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