Pendurado em um canto do caminhão de som, em plena Esquina Democrática, no Centro de Porto Alegre, um banner sintetizava o espírito da manifestação que reuniu no local milhares de trabalhadores, passantes, sindicalistas, militantes políticos, movimentos sociais, cidadãos e cidadãs, a partir das 17h da sexta-feira, 4/3: “64 Nunca Mais”. As pessoas se juntaram em um grande ato de protesto contra a arbitrariedade cometida pela Polícia Federal, que pela manhã, num superespetáculo combinado com a mídia, no âmbito da Operação Lava-Jato, enviou 200 policiais camuflados e armados com fuzis, para a casa de Luiz Inácio Lula da Silva, em São Bernardo do Campo. Todo este aparato serviu apenas para levar o ex-presidente da República, em regime de “condução coercitiva”, para prestar depoimento na Delegacia da PF no Aeroporto de Congonhas.
“O impressionante é que todas as vezes em que Lula foi chamado a depor, ele nunca se recusou”, lembrou uma bancária que estava na manifestação. O fato é que a injustiça e o abuso de autoridade, manobrados pelo juiz Sérgio Moro e Ministério Público Federal, provocaram uma resposta pronta das forças populares, que até o domingo, dia 13, estão em Vigília em Defesa da Democracia, da Constituição e contra o Golpe.
Assista a vídeo da manifestação na Esquina Democrática, Centro Histórico de Porto Alegre.
Luta da direita não é contra a corrupção
Após as falas de várias lideranças dos movimentos sociais e sindicais, coletivos da juventude, LGBTTT e de mulheres, todos contra o ensaio de golpe de estado empreendido pelos setores conservadores, utilizando-se da Operação Lava-Jato, o presidente do SindBancários, Everton Gimenis, deixou claro: “A luta dos conservadores não é contra a corrupção. É contra os direitos dos trabalhadores, é pelo retrocesso nos direitos e conquistas sociais, e pela aprovação da agenda conservadora no Congresso Nacional, como o Projeto de Lei do Senado 555, que pretende privatizar todas as empresas estatais do país!”, afirmou. Ele arrancou aplausos dos participantes ao colocar o dedo na ferida das prisões seletivas da Operação Lava-Jato: “Se a ação deles fosse contra a corrupção, teriam que prender a maioria dos que fazem oposição à presidenta Dilma!”.
O ex-governador do estado, ex-ministro, ex-prefeito de Porto Alegre e ex-presidente do Sindicato, Olívio Dutra, microfone na mão, garantiu, emocionado: “Vai ter luta pela democracia e soberania do povo brasileiro! Não vamos aceitar o projeto dos que querem um estado mínimo para a maioria da população mas um estado máximo para as elites!”. Olívio também alertou: “Onde o Lula não puder estar, todos nós temos que fazer o seu papel, para garantir que não teremos retrocesso das conquistas do povo”.
Uso das redes sociais
Enquanto jovens militantes sociais cantavam em coro “A verdade é dura/ a Rede Globo apoiou a Ditadura” e “Lula/ guerreiro/ do povo brasileiro”, o presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo, reforçava: “Nós trabalhadores estamos na rua, nas mesmas ruas onde lutamos pela democracia e onde vamos mantê-la! A mídia muda o sentido e a interpretação das coisas, conforme o seu interesse. Mas aqui em Porto Alegre e em todas as capitais do Brasil vamos continuar mobilizados contra tudo isso que vem acontecendo”. Claudir ainda incentivou militantes e a cidadania em geral a defender a democracia utilizando as redes sociais, para alertar a população menos esclarecida. “Agora, acabou a brincadeira”, sintetizou o líder sindical.
Ecos da Legalidade
Uma militante de um grupo de mulheres, no carro de som, definiu o momento que o país está atravessando. “Hoje no Brasil se instalou um regime de exceção, capitaneado pela Rede Globo, o juiz Moro e a Polícia Federal”. Um ativista político mais antigo lembrou o episódio da Legalidade, em 1961, quando o então governador Leonel Brizola, em Porto Alegre, comandou o movimento que deteve o golpe militar que pretendia impedir a posse do presidente João Goulart. “Hoje vivemos um momento de tentativa de golpe semelhante. Mas vamos repetir a Legalidade. Não passarão!”.
“Se é para prender e constranger o Lula, a direita manda 200 policiais, mas quando é um membro da Família Marinho da Rede Globo, ou Sirotski, da RBS, envolvido na Zelotes, ninguém vai preso!”, protestou Lucas Maróstica, ativista político dos direitos LGBTTT. “Queremos ver na cadeia é o Eduardo Cunha”, afirmou. Uma integrante de um grupo de mulheres, destacou a condição feminina: “Não nos enganemos. Se houver retrocesso democrático, nós seremos as primeiras a perder todos os direitos”.
Retrocesso no Brasil afeta o mundo
A vereadora do PCdoB, Jussara Cony, com sua experiência de mais de 40 anos de vida política, alertou os manifestantes e a população que participaram do ato: “Temos que continuar derrotando a ditadura. Se o Brasil retroceder, retrocede a América Latina e a luta dos povos de todo o mundo. A partir de agora, cada um de nós é Lula, cada um de nós é Dilma”.
O presidente do PT gaúcho, Ary Vanazzi, disse que “hoje o Brasil acordou estupefato com a quebra da normalidade democrática”. E alertou: “A burguesia tem vocação autoritária, e Lula é a síntese do seu ódio. Não é preciso que todo mundo goste do PT, mas é preciso gostar do Brasil e dos trabalhadores do Brasil”.
Agressões
Durante a sexta-feira, ao menos dois incidentes marcaram as mobilizações de dirigentes do SindBancários. Pela manhã, a diretora Carol Costa sofreu uma tentativa de agressão em uma rua do Centro de Porto Alegre. Durante a Vigília na Esquina Democrática, o diretor da Fetrafi-RS, Edison Moura, e o diretor do SindBancários, Carlos Teixeira, foram atingidos por uma garrafa. “Esses atos de intimidação estão crescendo em violência e ousadia. Nós sabemos de onde parte esse tipo de postura que é fascista e antidemocrática. Mas nem isso vai reduzir a nossa luta em defesa da democracia e dos nossos direitos”, afirmou Edison Moura. O SindBancários irá encaminhar esses cobardes casos de agressão aos canais competentes e tomar as medidas cabíveis.
Crédito fotos: Caco Argemi
Fonte: Imprensa SindBancários